Rankings escolares, as boas notícias e o resto

Há mais boas notas e muito mais informação. Mas é preciso cuidar das fragilidades agora mais a nu.

Neste 15.º ano consecutivo do ranking das escolas, cuja divulgação este ano se atrasou devido às eleições e à posterior mudança de governo, há duas boas notícias a considerar. A primeira diz respeito às notas: mais de 80% das escolas secundárias tiveram este ano média positiva nos exames, mais do que duplicando em relação ao “ano negro” de 2013 (484 escolas agora, contra 194). A segunda é que, independentemente do balanço global da herança Nuno Crato, a informação disponibilizada pelo ministério, e preparada no seu tempo, nunca foi tanta, permitindo análises e abordagens até aqui impensáveis. E isso vai ao encontro de um dos pressupostos da publicação dos rankings escolares desde o início: a partir dos resultados dos exames, que só a custo e por pressão da imprensa o ministério acedeu a facultar, procurar que fossem disponibilizados cada vez mais dados relacionados com as escolas, o seu contexto socioeconómico e o dos alunos. E isso tem sido possível aos poucos, gradualmente, permitindo a quem trabalha tais dados (no caso do PÚBLICO, uma equipa de jornalistas em parceria com o Centro Regional do Porto da Universidade Católica Portuguesa) obter cada vez mais pistas para uma leitura cada vez mais completa sobre a complexa malha dos nossos estabelecimentos de ensino.

E se, nos anos mais recentes, conseguimos introduzir leituras como a do chamado VEC (Valor Esperado de Contexto), mais fiáveis do que a leitura crua das notas dos exames, este ano os dados disponíveis permitem chegar a novos indicadores. Por exemplo, há seis escolas nacionais (três públicas e três privadas) onde, independentemente do seu lugar no ranking, os alunos progridem mais do que os do resto do país. Deverão ser, neste caso particular, objecto de estudo. Assim como, seguindo as pistas do indicador de promoção do Sucesso Escolar (outra novidades deste ano), verificamos que há 181 escolas do básico (17% do total) onde nem um quarto dos alunos consegue ter um percurso “limpo” de chumbos. Este indicador permite, por exemplo, criar um “ranking alternativo”, onde não são as médias nos exames que contam, e foi isso que fizemos no destacável de 48 páginas que hoje dedicamos aos rankings escolares.

Porém, à medida que se refinam os dados e os indicadores, é preciso que estes mostrem a sua utilidade no terreno, quer para as escolas (professores, alunos, pais), quer para o ministério. Agora que há várias mudanças em curso no ensino (fim dos exames do 4.º ano, fim das polémicas provas de avaliação dos professores, etc.), mudanças essas que vão afectar também os rankings do próximo ano, é bom que o ministério se prepare para responder a vários problemas que os actuais indicadores levantam. Por exemplo: o que fará para que algo mude nas escolas que sistematicamente têm maus resultados? E as que revelam dados alarmantes no novo “indicador da promoção do sucesso”? Vai ser mantida a política de atribuição de critérios horários (por eficácia educativa e redução do abandono)? Olhando para lá dos exames, há um mundo à espera. Vamos encará-lo?

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