Cimeira do Clima, os aplausos e as dúvidas

Apesar da emoção do momento, o Acordo de Paris é apenas um primeiro passo, e tardio.

Há seis anos, no dia 7 de Dezembro de 2009, publicámos uma capa como nunca a tínhamos feito. Não tinha imagens, não tinha manchete, não tinha títulos. Apenas um texto, que começava assim, em letras grandes: “Hoje, 56 jornais em 44 países dão o passo inédito de falar a uma só voz através de um editorial comum. Fazemo-lo porque a humanidade enfrenta uma terrível emergência. Se não nos juntarmos para tomar uma acção decisiva, as alterações climáticas irão devastar o nosso planeta, e juntamente com ele a nossa prosperidade e a nossa segurança”.

O texto, uma parceria inédita no jornalismo por uma causa ambiental, foi publicado no dia em que começava a cimeira climática de Copenhaga. Nela, depositavam-se enormes esperanças. Aguardava-se, ali, a aprovação de um novo acordo contra o aquecimento global e em favor da sobrevivência humana sobre o planeta.

Copenhaga falhou escandalosamente e foram precisos seis anos para que se chegasse a um momento semelhante. Esse instante mítico materializou-se sábado, 12 de Novembro, às 19h26, em Paris. O ministro francês dos Negócios Estrangeiros, Laurent Fabius, bateu o martelo, centenas de pessoas – ministros, diplomatas, representantes governamentais – irromperam numa ovação comovente, e estava aprovado o novo tratado internacional pelo qual tanto se esperou.

A contagiante emoção do momento não nos pode fazer esquecer que o Acordo de Paris, adoptado neste sábado pelas Nações Unidas, é apenas um primeiro passo, e tardio. Contém os ingredientes para um futuro viável. Mas a receita ainda não é a melhor.

Se for cumprido tal como está, nalgum momento da segunda metade deste século estaremos próximos de nos livrar da dependência dos combustíveis fósseis – o carvão, o petróleo, o gás natural, que a toda hora estamos a queimar, em segundos, devolvendo à atmosfera o CO2 que dela foi retirado ao longo de milhões de anos.

Não há nada no acordo, porém, que diga quando este dia vai chegar. Comprometemo-nos apenas a fazê-lo entre 2050 ou 2100.

Dizem-nos os cientistas que não temos tempo a perder. Que as emissões de CO2 devem ser reduzidas a zero até 2050, se de facto queremos conter a subida do termómetro global abaixo de 1,5ºC, como fixa o acordo – e esse é um dos seus méritos mais substanciais.

Resta saber se vai funcionar o modelo que o Acordo de Paris inaugura, em que os países dizem o que vão fazer, sem que as Nações Unidas lhes imponham metas. Por ora, mostrou já uma grande virtude, pois facilitou que todos os países – ricos e pobres – aceitassem fazer parte do esforço colectivo necessário para travar as alterações climáticas. Mas tudo o que foi prometido até agora não é ainda suficiente e o primeiro teste do novo tratado estará em fazer com que todos reforcem os seus compromissos.

Sem isso, de nada adiantam os aplausos deste sábado.

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