O statement de Banksy: tivemos Steve Jobs porque não fechámos a porta ao seu pai sírio

Artista britânico esteve em Calais, no norte de França, e deixou marca: o co-fundador da Apple com um saco preto ao ombro e um antigo Macintosh na mão, como quem foge à procura de novo caminho.

Banksy fez questão de explicar o seu trabalho, o que é muito raro acontecer
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Banksy fez questão de explicar o seu trabalho, o que é muito raro acontecer AFP
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O artista britânico, cuja identidade permanece um mistério, revelou um novo trabalho, justamente na “Selva”, o campo de refugiados perto de Calais, em França, perto da fronteira com Inglaterra, onde ajudou já a construir abrigos. Um grafito que é um statement como já nos habituou: lembra-nos que Steve Jobs era filho de um sírio. Tivéssemos fechado a porta ao seu pai e talvez nunca teríamos tido o génio que nos deu a Apple.

Depois de ter levado para Calais os materiais da sua Dismaland, Banksy continua do lado dos que chegam à procura de uma vida. Deixou a sua marca logo à entrada da Selva, onde estão acampados mais de quatro mil migrantes e refugiados que ambicionam fazer a travessia de cerca de 30 quilómetros para o Reino Unido. Calais é um dos núcleos de migração mais frequentados e perigosos da Europa. Todos os dias chega ali mais de uma centena de pessoas.

Numa parede velha, entre várias tendas, Banksy representou o co-fundador da Apple, Steve Jobs, com um saco preto ao ombro e um antigo Macintosh na mão, como quem foge à procura de um novo caminho. Com isto, quer lembrar que também Steve Jobs era filho de um migrante sírio que escolheu os Estados Unidos para viver depois da Segunda Guerra Mundial.

Banksy, que por diversas vezes se tem colocado ao lado dos refugiados, a maioria em fuga de guerras e perseguições em países como a Síria, Iraque ou Afeganistão, fez acompanhar o seu trabalho de uma rara declaração: “Somos muitas vezes levados a crer que a migração esgota os recursos do país mas Steve Jobs era filho de um migrante sírio. A Apple é a empresa mais lucrativa do mundo, paga anualmente mais de sete mil milhões de dólares [6,3 mil milhões de euros] em taxas – e só existe porque permitiram a entrada de um jovem de Homs”.

Ao lado de Jobs, que morreu em 2011, lê-se ainda: “Ninguém merece viver desta forma”. Uma frase que já exisita ali e que nada tem a ver com Banksy.

Conhecido pela sua atenção à actualidade, sempre crítico e de ironia afiada, enquanto esteve em Calais Banksy deixou outras marcas, outros trabalhos, entre os quais se destaca uma interpretação bem à sua maneira da pintura a óleo de Theodore Gericault (1791-1824), Le Radeau de la Méduse. À semelhança da obra original, desenha uma cena de um naufrágio, que nos transporta para as tragédias que têm acontecido na crise migratória. Os refugiados afundam-se, enquanto ao longe passa um iate de luxo – uma imagem não muito distante da realidade que se vive no Mediterrâneo ou no Egeu. No seu site oficial, Banksy dá a legenda da obra: “Não estamos todos no mesmo barco”.

Numa outra obra, com o seu traço distinto, vemos uma criança de cabelos ao vento, em plena praia de Calais, a olhar por uma luneta – do outro lado fica a tão desejada Inglaterra. Em cima da luneta, um abutre.

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Ainda antes de ter viajado para Calais, Banksy já tinha enviado para lá toda a madeira e utensílios de Dismaland, o parque temporário de diversões que montou no Verão num abandonado complexo recreativo em Weston-super-Mare, nos arredores de Bristol, em Inglaterra, para que se construíssem abrigos para os refugiados. E Dismaland passou Disma Aid.

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