Petróleo de Timor financia os EUA, diz Ramos-Horta

Ex-presidente diz que o país "é inocente" na questão das alterações climáticas.

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Miguel Madeira

Timor-Leste é inocente quanto às alterações climáticas, vai continuar a usar o seu petróleo e até está a financiar os Estados Unidos. A mensagem foi deixada esta quinta-feira pelo ex-Presidente timorense José Ramos-Horta na cimeira do clima em Paris, onde está a ser negociado um novo tratado para conter o aquecimento global.

“As nossas emissões de CO2 representam zero vírgula zero, zero, zero… podem pôr quantos zeros quiserem. Somos inocentes nessa matéria”, disse Ramos-Horta, numa conferência de imprensa.

O pequeno país, com 15 mil quilómetros quadrados e 1,2 milhões de habitantes, vive o paradoxo das nações produtoras de petróleo na cimeira climática de Paris. Aqui está-se a negociar um tratado internacional que poderá inviabilizar, a médio ou longo prazo, a utilização dos combustíveis fósseis.

Mas Timor-Leste precisa do gás e do petróleo que agora explora para o seu desenvolvimento. “Não concordo que sejam deixados no subsolo. Os países desenvolvidos beneficiaram deles durante cem anos”, afirmou Ramos-Horta, que lidera a pequena delegação timorense na cimeira.

O ex-Presidente e prémio Nobel da Paz disse que Timor-Leste não deixará de utilizar as suas reservas petrolíferas. E, se o fizesse, o Japão não ficaria satisfeito – porque importa a totalidade da produção timorense –, nem os Estados Unidos, dado que as receitas são investidas em títulos de dívida do tesouro norte-americano. “Estamos a financiar a economia dos Estados Unidos”, gracejou Ramos-Horta.

Cerca de 85% do Orçamento do país é alimentado com verbas do Fundo Petrolífero, para onde são canalizadas as receitas da exploração. Mas, para fazer face às despesas, o Orçamento está ultrapassar a quota de utilização sustentável do fundo, ou seja, a este ritmo o dinheiro do petróleo vai acabar.

Timor-Leste faz parte do grupo dos países menos desenvolvidos que reclamam um limite máximo de 1,5oC de aumento da temperatura da Terra e mais financiamento para a adaptação a um mundo mais quente. “Antes sabíamos que no dia 1 de Novembro começavam as chuvas. Era como um relógio suíço. Agora, o clima completamente imprevisível criado pelas alterações climáticas está a afectar Timor-Leste”, referiu Ramos-Horta.

Timor-Leste foi um dos países de todo o mundo que não apresentaram à ONU o seu contributo para a luta climática – conhecidos pela sigla INDC (intended nationally determined contribution). “Não é uma questão de vida e de morte entregar os planos nacionais”, justificou Ramos-Horta, dizendo que o país tem tomado medidas internas. “Temos feitos enormes campanhas de repovoamento florestal e distribuímos painéis solares pelas aldeias.”

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