Ganharam a sobrinha e a tia. E agora França?

É a primeira vez que os franceses, com o país em estado de emergência, vão a eleições.

O reforço das medidas de segurança junto às mesas de voto era sinal de que a França não vivia dias normais. Continua o estado de emergência declarado por François Hollande e na memória de todos os que foram votar este domingo terão estado os atentados de 13 de Novembro que mataram 130 pessoas em Paris. É neste ambiente de mágoa, com alguma islamofobia e deriva securitária à mistura, que os franceses foram votar nas eleições regionais. Os partidos que ganharem em cada uma das 13 regiões metropolitanas ficarão, por exemplo, com a responsabilidade dos transportes locais ou com a pasta do desenvolvimento económico regional.
 
A Europa está de olhos postos em França. Não com a curiosidade de quem quer saber quem vai ficar com a tutela do ensino secundário e vocacional nas diferentes regiões, mas para observar a evolução da implantação da Frente Nacional (FN), um partido anti-Europa, como uma força capaz de disputar eleições em todo o espectro político, das departamentais, às presidenciais, passando pelas europeias. E os resultados históricos deste domingo do partido de extrema-direita, que até agora nunca tinham ganho uma região, assim o comprovam.
 
Marine Le Pen partiu para a corrida como a mais bem colocada para ganhar na região Norte-Pas-de-Calais-Picardia, uma das mais pobres de França, e a sobrinha Marion Maréchal Le Pen como uma das preferidas para Provence-Alpes-Côte d’Azur, uma das regiões mais ricas. Tia e sobrinha ganharam na primeira volta e Marine fica com a rampa para as presidenciais de 2017 mais desobstruída.

O partido nacionalista está a beneficiar de vários fenómenos que em simultâneo estão fustigar a sociedade francesa e que encaixam na perfeição no discurso populista da família Le Pen. Muitas das medidas de segurança colocadas agora no terreno, como o restabelecimento do controlo nas fronteiras, sempre foram bandeira da FN, que também está a aproveitar a onda de migrantes que estão a chegar à Europa para tratar os dois temas – terrorismo e refugiados – como se fossem apenas um. E na frente económica, o discurso facilitista do regresso à reforma aos 60 anos, do aumento do salário mínimo em 200 euros ou da saída do euro ganha adeptos junto daqueles que têm sido mais fustigados pela austeridade.

François Hollande e Nicolas Sarkozy vão ter de ser capazes de mostrar aos franceses que é possível ter uma sociedade próspera, que consiga resolver problemas como os da segurança e do emprego, sem cair em extremismos. Como? Terão de escolher o caminho mais difícil, que é precisamente o de combater o terror e a recessão sem fazer explodir os valores da tolerância e da solidariedade, que constituem a fundação da sociedade francesa e que serve de pilar ao projecto europeu. Como dizia este domingo ao Libération um eleitor em Pas­-de-­Calais que estava na fila para votar, “a FN não representa os valores da França. Assim espero”. Assim esperamos.

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