Fotogalerias
Os apartamentos ridiculamente pequenos de Paris
Em Paris, alugar uma casa é cada vez mais caro. E há quem não se importe de pagar muito para viver em 9 metros quadrados. Há até quem consiga colocar uma banheira neste espaço e afirmar orgulhosamente que pode ver televisão enquanto toma banho.
Antes de se mudar para Paris, há dois anos, Félix Macherez viveu no meio do deserto californiano e pagava cerca de 250 euros por mês por uma casa partilhada com seis quartos e um grande jardim. Antes disso, viveu ainda na Ilha da Reunião, onde a ideia de viver entre quatro paredes não existia. “Quando me mudei para Paris, arrendei um apartamento pequeno por uma grande quantia. Quando estava em casa, parecia que as paredes estavam coladas à minha pele”, conta o fotógrafo, em resposta por email ao PÚBLICO. Inspirado na sua experiência pessoal, Félix começou em Abril deste ano, o projecto “Chambres des bonnes” (Quartos de empregadas), uma série de fotografias que retrata os espaços ridiculamente pequenos e caros de Paris e as pessoas que neles vivem. Entrou em contacto com amigos, amigos de amigos, e quando a série foi publicada pela primeira vez, recebeu vários emails de pessoas que o convidavam a fotografar os seus pequenos apartamentos ou os chamados “quartos de empregada” – quartos que surgiram em 1830 em consequência da forte hierarquia da sociedade parisiense. Enquanto os ricos viviam em grandes apartamentos, os empregados viviam em espaços minúsculos, onde residem actualmente a maior parte dos jovens e estudantes. As dimensões mínimas dos quartos são as permitidas pela lei francesa – 9 metros quadrados ou 7 metros cúbicos de volume. “Quando um apartamento é composto apenas por um quarto, ele torna-se num espaço íntimo de vida, personalidade, segredos, escrita, sono, cozinhados, banho, meditação, sexo, ou até doença. Acho interessante a ideia de ter um espaço único, global, que contém tudo, em vez de um espaço específico para cada uma das actividades”. Félix não só fotografou os quartos como falou com as pessoas. Uma delas, a mais velha, contou-lhe que comprou o estúdio e conseguiu alterá-lo de modo a colocar uma banheira nos 9 metros quadrados. Orgulhosamente, disse ao fotógrafo que consegue ver televisão enquanto toma banho. “As pessoas dão um rosto ao quarto, uma presença, uma percepção da realidade. Acho que a série não teria funcionado de outra maneira”, conta Félix. “Sem pessoas, os quartos podem muito bem fazer parte de um anúncio para um motel ou um site para arrendar imóveis”.