Em Espanha, os abstencionistas “doam” o voto aos emigrantes

Colectivo Marea Granate criou uma plataforma para reunir pessoas que não querem votar e emigrantes impedidos de exercer esse direito. Iniciativa estará em funcionamento já nas próximas eleições espanholas, a 20 de Dezembro

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Para já, mais de 100 votos já foram resgatados @gsemprunmdg

"Eu quero votar e não posso. Tu podes votar e não queres. Doa e vota por mim a partir daí." A aprovação da nova Lei de Voto pelo PSOE, em 2011, e a sua continuação pelas mãos do PP retirou a "quase dois milhões" de espanhóis emigrados o direito de votar. Quem o afirma é o Marea Granate, um colectivo de emigrantes que criou agora uma plataforma que pode ser uma solução improvisada para este problema: um abstencionista voluntário que viva em Espanha doa o seu voto a um abstencionista forçado que esteja fora do país.

Não é o método ideal, apenas o possível. Nos últimos meses, o colectivo apartidário de emigrantes lutou intensivamente contra a lei em vigor, mas as alterações conseguidas não foram suficientes, lamentam: "Uns míseros 6,11% de todo o registo eleitoral estrangeiros teve a sorte, ou capacidade, de completar todas as burocracias nesta semana." Este "último recurso" em forma de plataforma de contacto entre pessoas que querem votar e não podem e emigrantes que gostariam de o fazer e não conseguem é o resultado que seria dado por "um sistema eleitoral justo" — e vai estar em prática já nas eleições de 20 de Dezembro.

O sistema é simples. O cidadão que queira abster-se inscreve-se no site através de um email e o emigrante em busca de um doador faz o mesmo. Depois, a plataforma encarrega-se de unir as pessoas. Para já, mais de 100 votos já foram "resgatados".

Para o Marea Granate, "o que está a acontecer no exterior do país é uma fraude eleitoral": "Não estamos perante uma situação causada por um erro burocrático ou um atraso logístico. Não. Privar quase dois de pessoas do seu direito de voto numas eleições tão importantes, e fazê-lo já pela enésima vez, tem um nome: alterar expressamente o resultado da votação. Temos sido enganados e pedimos, pelo menos, que não usem subterfúgios: a 20 de Dezembro, não estaremos todos porque não nos deixam estar", declaram no site onde a campanha com a "hashtag" #RecataMiVoto ganha força.

O método, garantem, é completamente legal: "Em vários países, como França ou Reino Unido, pode designar-se uma pessoa para que vote em nosso lugar, chama-se 'voto por procração", explicam. "Ninguem votará duas vezes aqui, apenas se transforma uma abstenção voluntária e forçada num voto."

Em Portugal, nas últimas eleições legislativas, foram vários os relatos de portugueses emigrados que não conseguiram votar.

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