Três bancos portugueses afectados pela insolvência da espanhola Abengoa

Grupo de energias renováveis pediu protecção contra credores naquela que pode ser a maior falência da história empresarial em Espanha.

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REUTERS/Marcelo del Pozo

Há três bancos portugueses com exposição à Abengoa, a empresa espanhola de energias renováveis que iniciou na quarta-feira o processo de pedido de protecção contra credores.

Segundo uma lista de 200 credores do grupo publicada nesta quinta-feira pelo diário espanhol Expansión, Novo Banco, Caixa Geral de Depósitos e BPI têm, no conjunto, um crédito de 75 milhões de euros da Abengoa. De acordo com a publicação, é o Novo Banco (NB) quem tem a maior exposição, atingindo os 55 milhões de euros. 

No entanto, fonte oficial do NB disse ao PÚBLICO que a exposição da entidade à Abengoa é “substancialmente inferior” ao valor avançado pelo Expansión, sem no entanto especificar o montante.

A informação do jornal especializado contabiliza créditos ou financiamento de projectos até 30 de Setembro. Na lista consta também uma entidade com o nome BCP, que terá uma exposição de 142 milhões de euros, mas não se trata do banco português, confirmou ao PÚBLICO fonte oficial do Millenium BCP. 

O início do processo de insolvência foi anunciado, quarta-feira, pela Abengoa à espanhola Comissão Nacional de Mercado de Valores (CNMV), no mesmo comunicado em que a empresa deu conta do fracasso de um acordo quer iria injectar capital.

Uma companhia industrial espanhola, a Gonvarri, estava disposta a investir 350 milhões de euros em troca de 28% do capital da Abengoa mas não avançou por considerar que a energética não cumpria as condições acordadas.

Assim, o grupo de energias renováveis comunicou ao supervisor de mercado que iria “continuar o processo de negociação com os seus credores com o objectivo de alcançar um acordo que garanta a viabilidade financeira”. 

A lista do Expansión especifica que, no total, a exposição das 200 entidades à empresa de energias renováveis ultrapassa os 20 mil milhões de euros, sendo que 12% desse valor diz respeito a empréstimos corporativos, que representam uma maior margem de risco. Cerca de 80% por cento do passivo pertence a instituições financeiras internacionais.

Como elemento que contribuiu para agravar a crise na multinacional, o Financial Times aponta a reforma energética espanhola de 2013, que cortou subsídios aos fornecedores de energias renováveis, depois de anos em que vigorou uma política de apoio. O jornal sublinha também que a acumulação de dívida, que em Setembro chegava aos 8,9 mil milhões de euros, arrastou a empresa para esta situação.

O Federal Financing Bank (FBB), um banco detido pelo governo norte-americano, é a entidade com maior exposição ao grupo espanhol, num valor que ascende a 2220 milhões de euros. O FBB participou e financiou vários projectos de construção de centrais solares nos Estados Unidos.

As maiores instituições da banca espanhola também ocupam os lugares cimeiros desta lista, com o Santander a assumir a posição de segundo maior credor, com 1550 milhões de euros. Bankia, Caixabank, Sabadell, Banco Popular e Bankinter também se encontram entre os bancos com maior exposição à Abengoa.

O brasileiro Banco Nacional de Desenvolvimento Social é o terceiro maior credor, com 750 milhões de euros, montante que se explica com o envolvido da entidade no financiamento a desenvolvimento de instalações de produção de etanol, para ser utilizado como biodiesel.

Depois de ter registado uma queda de 53,8% na sessão bolsista de quarta-feira, dia em que foi anunciado o início do processo de protecção contra credores, a empresa foi excluída do índice Ibex35, uma decisão com efeito a partir de sexta-feira. Nesta quinta-feira, pouco depois das 13h, a cotação da Abengoa seguia a perder 27% para 0,306 euros. 

Fundada em 1941 em Sevilha, a Abengoa tem cerca de 24 mil trabalhadores distribuídos por 80 países, tendo como principais mercados Espanha, Brasil e Estados Unidos.  

O maior accionista da empresa andaluza é a Inversión Corporativa, propriedade da família do fundador da Abengoa, a família Benjumea, que no final de 2014 detinha uma participação de 51,63%. 

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