Construção de grande superfície em Évora assusta comerciantes de Badajoz

A proposta prevê a instalação do empreendimento junto ao centro histórico da cidade e irá ocupar uma parcela de terreno municipal com 30 mil metros quadrados.

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Évora poderá tirar visitantes a Badajoz

A instalação de uma grande superfície comercial a cerca de uma centena de metros das muralhas do Centro Histórico de Évora (CHE) está a causar alguns engulhos ao comércio de Badajoz que se sente ameaçado com o seu impacto, como refere o diário Hoy numa das suas últimas edições.

Se a proposta para a cedência do terreno municipal onde os proponentes do projecto pretendem construir a superfície comercial for aprovado na reunião do executivo municipal de Évora que se realiza nesta quarta-feira, o seu efeito na economia da cidade espanhola é comparado pelo jornal extremenho a “um torpedo na linha de flutuação do comércio de Badajoz.”

O seu impacto preocupa igualmente o alcaide de Badajoz, Francisco Javier Fragoso que se habituou a ver na capital da Extremadura “o núcleo comercial de parte importante do Alentejo”, onde os cidadãos portugueses que “vivem em Évora e na raia” fazem as suas compras, sublinhou o autarca espanhol.

Por sua vez, o presidente da Câmara de Évora, Carlos Pinto Sá, confirmou ao PÚBLICO que a instalação do novo centro comercial “terá impacto a nível regional com um raio de acção alargado que tocará Badajoz, tal como Badajoz condiciona agora o comércio em Évora”.  Daí que a apresentação de uma proposta para a cedência de uma parcela de terreno com 30 mil metros quadrados tenha todas as condições para ser aprovada pelos eleitos da CDU que são maioritários no executivo municipal de Évora.

O autarca assume que “a grande maioria da população quer o centro comercial” que é apenas contestado “por algumas pessoas” que alegam ter o município instrumentos para “impedir a sua construção, o que não corresponde à verdade.”

Ao contrário do que é afirmado pelos opositores do projecto, tanto o Plano de Urbanização de Évora como o Plano Director Municipal, “prevêem a instalação de um empreendimento comercial” na zona onde irá ser feita a cedência do terreno, acentua Pinto Sá, frisando que a sua viabilização naquele local só será possível “se a câmara vender o terreno.”

Ao mesmo tempo, vai permitir que o projecto a implantar possa ter a intervenção do município na definição da estrutura que se pretende instalar. “Podemos assumir posições e colocar propostas” o que não aconteceria se a proposta escolhesse um outro local.

O novo equipamento será enquadrado numa área patrimonial que “exigiu estudos aprofundados sobre o seu impacto”, prossegue o autarca assinalando que, “quanto maior for a proximidade do centro histórico, menor será o impacto no comércio local.”

Ao contrário do que tem sido afirmado, ou seja que já há um grupo de investidores locais interessados em instalar o projecto, o autarca refere que “será realizado um concurso público e então se verá quem é que se candidata” à construção do empreendimento.

A proposta que vai ser apresentada na reunião desta quarta-feira, só será aprovada na próxima reunião de câmara para possibilitar a continuação do debate sobre o projecto de um centro comercial em Évora, debate esse que já dura “há mais de um ano”, refere Pinto Sá, salientando que a “câmara sempre pugnou para que houvesse uma discussão aberta do tema e extensivo a toda a gente: empresários, partidos políticos, a comunidade local, etc.”

Entretanto, e em paralelo, o Grupo Pró-Évora, uma associação criada em 1919 para debater as questões relacionadas com o património, está a realizar vários debates públicos sobre a instalação do novo equipamento. A presidente de direcção, Aurora Carapinha, adiantou ao PÚBLICO, não haver ainda uma posição assumida do grupo quando “prosseguem os debates sobre o tema”. E como os membros dirigentes da associação se recusam a assumir posições pessoais, “só depois de concluídos os debates é que será tomada uma posição pública” sobre a superfície comercial, observou.  

Os comerciantes de Badajoz estão bem informados do peso turístico que Évora tem nos dias de hoje, sobretudo na afluência de forasteiros que rumam à cidade alentejana para conhecer o valor do património que preserva, sobretudo o seu centro histórico, classificado pela UNESCO como Património Mundial da Humanidade em 1986. Os números divulgados pela autarquia e relativos a 2014, revelam que pelo posto de turismo da cidade passaram mais de 147.000 visitantes, a maior parte vinda de Espanha e Portugal, em crescimento constante ao longo dos últimos quatro anos, apesar da crise.

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