Testes VIH vão passar a ser recomendados também acima dos 65 anos

Novos casos de infecção pelo VIH em Portugal diminuíram 17,3% em relação a 2013. No ano passado foram diagnosticadas 1220 novos casos de VIH. Morreram 391 pessoas devido à doença.

Foto
Director do Programa Nacional para a Infecção VIH/sida, António Diniz, deu conta da descida de novos casos Guilherme Marques

Mais de um quarto das pessoas infectadas por VIH/sida no ano passado têm mais de 50 anos, sete por cento têm mesmo mais do que 65 anos. Com estes novos dados, a Direcção-Geral de Saúde (DGS) vai, até ao final do ano, alterar a recomendação vigente que dá indicação para que "todas as pessoas entre os 18 e os 64 anos avaliem pelo menos uma vez o seu estado em relação à infecção", fazendo desaparecer o limite superior de idade para a realização de testes, disse esta sexta-feira o director do Programa Nacional para a Infecção VIH/sida, António Diniz. “Estes números mostram que este limite não faz sentido”.

As notícias na área do VIH/sida continuam a ser animadoras, veio anunciar este responsável na conferência “VIH: Prevenir Sempre, Diagnosticar Cedo, Tratar Todos”: os novos casos de infecção pelo VIH em Portugal diminuíram 17,3% em relação a 2013, havendo um decréscimo de 11,6% dos casos já em estado sida (a fase mais avançada da doença). No ano passado foram diagnosticadas 1220 novos casos de VIH, 222 das pessoas já se apresentavam no estado sida. Morreram 391 pessoas devido à doença.

Ano após ano uma das falhas apontadas a Portugal é a existência de uma taxa demasiado alta de diagnósticos tardios. Em 2013 cerca de 65% das pessoas chegaram aos serviços de saúde num estado já muito avançado da doença, valor que desceu para 49,1% no ano passado, “o que praticamente deixa Portugal na média da região europeia da Organização Mundial de Saúde”, disse António Diniz na conferência organizada pela DGS.

Se atentarmos ao perfil de quem é infectado, continua a aumentar o número de novos casos de infecções em homens que fazem sexo com homens (actualmente situado nos 31,8%) e desce os que contraem a infecção entre os usadores de droga por via injectável (3,9%). A transmissão continua a acontecer sobretudo entre heterossexuais (60,5%), nomeadamente na faixa dos que têm mais de 50 anos.

A grande maioria das infecções (cerca de 70%) acontece na da Área Metropolitana de Lisboa (que passou a englobar a península de Setúbal), Área Metropolitana do Porto e região do Algarve. Dezassete por cento dos infectados são migrantes, referem dados do relatório Infecção por VIH, SIDA e Tuberculose em números-2015, que foi divulgado esta sexta-feira na conferência, que decorreu no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, em Lisboa.

Foram identificadas 239 grávidas infectadas no ano passado, mas não se conseguiu evitar a transmissão da infecção para quatro bebés, que assim nasceram também seropositivos, em 2013 tinham nascido apenas dois bebés infectados. António Diniz admite que haverá alguns casos que não se conseguem controlar, porque são mulheres que chegam de outros países no final de gravidezes não vigiadas, mas sublinha que tem de se aumentar o esforço para “tentar encontrar estas grávidas”.

Revelando os dados do sistema informático SI.VIDA, que recolhe e analisa dados de 25 hospitais que tratam a patologia (93% do universo de doentes a serem seguidos), António Diniz diz que, em 6,3% dos novos casos de infecção, revelou-se que os doentes também estavam infectados com sífilis, “uma proporção que nos deve fazer pensar”. Da plateia da conferência veio mesmo a sugestão de mudar o nome de Programa Nacional para a Infecção VIH/sida para passar a ser do VIH/sida e de outras infecções sexualmente transmissíveis.

No caso da tuberculose diz que foi alcançado “o número mágico”: 20 novas infecções por 100 mil habitantes. Em 2014 foram notificados 2264 casos de tuberculo­se dos quais 2080 eram casos novos, o que significou uma redução de cerca de 5% entre 2013 e 2014. Mas o responsável notou que ainda existe um intervalo médio de mais de três meses desde os primeiros sinais da doença e o diagnóstico de tuberculose, o que pode apontar para “dificuldades de acesso" a cuidados de saúde.

Medicamentos param 90 dias e consulta numa semana

O limite mínimo para a disponibilização da medicação anti-retroviral a doentes infectados passa a ser de 90 dias e, quando os testes dão positivo para a infecção, a consulta hospitalar tem de realizar-se no espaço máximo de sete dias, referem dois despachos publicados esta sexta-feira e assinados pelo ex-secretário de Estado da Saúde e actual ministro da Saúde, Fernando Leal da Costa, que os anunciou durante a conferência.

No ano passado houve várias denúncias de médicos que davam conta de doentes que se viam obrigados a interromper a sua terapêutica porque as farmácias hospitalares, que são obrigadas a fornecer os medicamentos gratuitamente, estavam a entregá-la a conta-gotas por questões orçamentais, obrigando os doentes a múltiplas deslocações e consequentes dificuldades com os custos dos transportes. O último despacho do Ministério da Saúde, de Fevereiro do ano passado, dizia que a medicação não deveria ser dada por períodos inferiores a 30 dias.

Leal da Costa referiu agora que o alargamento para 90 dias “é o que é o tecnicamente mais correcto, sendo esta uma doença crónica”. O objectivo é impedir “o recurso a consultas médicas desnecessárias ou a deslocações clinicamente injustificadas às instituições hospitalares”, lê-se no despacho.

Esta é a Semana Europeia do Teste VIH-Hepatites, que começa dia 20 e termina a 27 de Novembro e envolve cerca de duas dezenas de organizações, tendo por objectivo sensibilizar a população sobre os benefícios do rastreio regular das infecções pelo VIH e hepatites virais. Em Portugal 0,6% por dos testes dão positivos para o VIH.

O governante notou ainda que tinha havido alertas de organizações no terreno que fazem testes e que diziam que decorria um intervalo demasiado longo entre o teste positivo e a marcação de consulta, tendo a pessoa que passar por “um pequeno calvário”, indo ao centro de saúde e aguardando a marcação de consulta hospitalar, referiu Leal da Costa. Com o seu despacho, a ideia é poderem inscrever-se directamente num dos hospitais de referência (cuja lista também foi publicada) na área do HIV, tendo de ter consulta num intervalo máximo de sete dias, contado a partir da data em que o estabelecimento hospitalar regista o pedido, que gerem os pedidos através do sistema Consulta a Tempo e Horas.

Depois de várias notas de ironia em torno da sua situação de governante de saída não deixou de dizer: “Deixem-nos governar, estamos mais preparados do que ninguém para resolver as grandes questões pendentes”.

Sugerir correcção
Comentar