Mais uma série Marvel? Sim, mas é com uma mulher e chama-se Jessica Jones

Jessica Jones, a segunda série da Marvel com produção Netflix, estreia nesta sexta-feira. É a primeira heroína da gigante dos comics a ter uma série. É a primeira série Marvel a ter um casal gay representado. As críticas renderam-se.

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Jessica Jones é uma heroína "reformada" Netflix
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Esta não é a habitual história a que a Marvel nos tem habituado, desde logo por ter uma protagonista feminina Netflix
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Carrie-Anne Moss (à esq.) e Krysten Ritter acreditam que esta é uma série que contribui para a igualdade de género Netflix
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Jessica Jones tem uma força sobre-humana Netflix
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Para Ritter, este é o papel da sua vida Netflix
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David Tennant é Kilgrave, o vilão que Jessica Jones tanto teme Netflix
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No ecrã Moss é uma mulher lésbica, o que faz de Jessica Jones a primeira série Marvel a ter um casal gay representado Netflix

Uma heroína que é ao mesmo tempo uma vítima, uma sobrevivente num mundo não muito diferente daquele em que vivemos. Na Primavera o Netflix deu-nos o Demolidor, agora o serviço de streaming que chegou a Portugal há um mês estreia Jessica Jones, a segunda de quatro séries Marvel. As expectativas são altas, depois de o Demolidor, que inaugurou um novo tipo de séries para a gigante dos comics – mais sombrias, mais adultas. A crítica já viu os primeiros sete episódios (em 13) e é unânime: é uma das melhores séries de 2015, provavelmente a melhor de sempre da Marvel. Falámos com duas das actrizes da série, Krysten Ritter (Jessica Jones) e Carrie-Anne Moss (Jeryn Hogarth), e garantiram-nos que esta nova aposta do Netflix e da Marvel “é diferente de tudo o que já vimos em televisão” e, quem sabe, até no cinema.

Não é a habitual história do super-herói a que a Marvel nos tem habituado, tanto no cinema como na televisão. A começar desde logo por ter uma protagonista feminina. Talvez não seja sequer uma série para todos. “É uma banda-desenhada muito noir. Na verdade, a sua classificação é Max, a secção de adultos dos comics”, começa por dizer a actriz que conhecemos também de Breaking Bad à mesa com jornalistas espanhóis e portugueses. Jessica Jones é negra, sombria, tensa. Jessica Jones, a heroína, não quer salvar o mundo. Não tem um plano, uma missão. É uma mulher magoada, destruída, que em tempos foi abusada por Kilgrave (David Tennant), o vilão capaz de controlar a mente de qualquer pessoa. A sua situação não é muito diferente daquela de uma mulher abusada. Ele obcecado por ela, ela com medo dele. De alguma forma, Jessica conseguiu fugir do controlo de Kilgrave mas, como qualquer sobrevivente de uma relação abusiva, continua a viver com medo.

Quando a encontramos pela primeira vez, nem imaginamos que à nossa frente está uma antiga heroína – tem uma força sobre-humana capaz de levantar um carro com as mãos, por exemplo. "Ela não está realmente interessada em salvar o mundo, o universo ou até mesmo a cidade [Nova Iorque]", diz Krysten Ritter. Jessica Jones deixou-se disso e é agora uma investigadora privada que só quer fazer dinheiro para o whisky que bebe todos os dias. “Ela apenas se tenta desenrascar”, conta a actriz norte-americana de 33 anos. “Mantém um mundo muito pequeno por causa do seu passado tão negro e traumático.” Afasta todos os que se preocupam consigo. É uma solitária à procura de um novo sentido para a vida.

Ritter está sentada ao lado de Carrie-Anne Moss (Matrix). Na série Moss dá vida a Jeryn Hogarth, a advogada que tantas vezes contrata Jessica Jones para pequenas investigações. “Ajudamo-nos mutuamente, apesar de sermos adversárias. De alguma forma, gostamos uma da outra”, conta a norte-americana que tem a responsabilidade de representar a primeira personagem gay do universo Marvel. Se na banda desenhada, criada em 2001 por Brian Michael Bendis e desenhada por Michael Gaydos, Jeryn Hogarth é um homem, na produção do Netflix é uma mulher lésbica, o que faz de Jessica Jones a primeira série Marvel a ter um casal gay representado.

“Vivemos num tempo completamente novo. Se eu olhar para os meus filhos, a forma como eles vêem o mundo é tão completamente diferente de quando eu era criança. Está a mudar tão rapidamente”, diz ao PÚBLICO Carrie-Anne Moss, de 48 anos, para quem “é um alívio gigante as pessoas poderem ser quem são e não terem de fingir ou de se esconder”. “Todo o ser humano deve poder sentir-se reflectido na arte”, continua, ao mesmo tempo que Krysten Ritter defende como é importante que “todas as pessoas se sintam representadas na televisão”. “É normal e tem de acontecer mais.”

Ritter destaca ainda como Jessica Jones está a contribuir também para a igualdade de género na televisão. “É emocionante ser a primeira super-heroína da Marvel. Temos grandes personagens femininos, além de a série ser escrita por uma mulher.” Essa mulher é Melissa Rosenberg argumentista e produtora da bem sucedida saga Crepúsculo ou de numerosos episódios de Dexter.

Para a actriz isto acontece porque se trata de uma produção do Netflix. “Criativamente, se não te preocupas com a publicidade podes fazer o que queres. E por isso os criadores vão para o Netflix porque querem a liberdade”, diz ao PÚBLICO. “Nos canais também acontece muito as séries não serem pensadas no seu todo, no sentido de que podes abandonar a história quando quiseres. No Netflix é como se estivesses a ver um filme de 13 horas. Ninguém vai abandonar ao episódio 5. Vão começar do início e ver até ao fim”, defende.

Mas então porque oferece a indústria resistência? “Sempre que mudas alguma coisa, haverá resistência. As pessoas têm medo da mudança. Quando o Netflix primeiro apareceu, lembro-me que não fazia sentido nenhum para mim”, responde-nos Carrie-Anne Moss. “Quando já tens 20 anos de carreira, como eu, achas que a televisãoo é de uma forma. Mas é preciso romper com essa forma de pensar. Acho que é entusiasmante pensar o que se seguirá”, continua.  “As pessoas não vão tanto ao cinema agora. Está tudo a mudar. Temos de deixar o modo antigo para que possa haver uma nova forma. Temos de continuar a evoluir e não ficar presos, dominados por publicidade. Adoro que seja o consumidor a dominar a paisagem do conteúdo, em vez de ser alguém a vender-nos alguma coisa. Estamos a comprar o conteúdo, estamos a comprar estas séries, estamos a investir na produção de séries que adoramos. É brilhante.”

Brilhante é também o adjectivo usado por muitos críticos que já puderam assistir a metade da série. “Numa televisão supremamente lotada, Jessica Jones é um dos dramas mais distintivos do ano”, escreve a Variety, enquanto a Collider defende a forma como esta é uma série “que dá poder e controlo às mulheres”. “Jessica Jones consegue ser sombrio, atormentado e muito sexy, mas nunca nos parece gratuito”, lê-se ainda na Collider. Para a Forbes, esta nova série “é algo realmente especial e totalmente único”. O Independent fala em prémios, seriam os primeiros para a uma série Marvel, e defende que o Kilgrave de David Tenant poderá ser “o melhor vilão de banda-desenhada no ecrã desde o Joker de Heath Ledger”.

“O que a Marvel faz tão bem com os seus vilões é que nunca sabemos se os devemos adorar ou odiar. Eles tornam essa linha dúbia”, diz Ritter, contando que a relação entre os dois personagens “é uma montanha-russa”. “É muito negra e muito marada. Ele é a fonte de muita da obscuridade da Jessica e é também a razão de ela se tornar quem é”, explica.

“É uma história maravilhosa”, diz a protagonista. “Uma das coisas mais entusiasmantes é que Jessica Jones não se parece com nenhuma outra série do género. É completamente diferente dos filmes da Marvel. É uma série de carácter psicológico com um grande drama e acontece que também se baseia num super-herói da Marvel”, afirma, argumentando que este é o papel da sua vida. “É tudo o que desejas fazer como actor. Uma personagem que é muito real. Todos nós vivemos numa zona cinzenta. Acho que as pessoas se vão surpreender com a série. É realmente diferente de qualquer coisa que já tenham visto.”

O PÚBLICO viajou a convite do Netflix

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