Serenidade precisa-se

Este não é um bom momento para deitar mais achas para a fogueira.

Os dirigentes da coligação de direita estão na estrada numa óbvia tentativa de mobilizar as hostes ainda não se sabe bem para quê; a peregrinação a Belém começou ontem pelas associações patronais, que deram o pontapé de saída na série de audições à sociedade civil que o Presidente quer ouvir no âmbito do actual momento político; e já corre na Internet um movimento de assinaturas para Cavaco Silva não dar posse a um governo de esquerda. Aliás, neste particular, é curioso que, enquanto se multiplicam os indícios de que está em curso uma operação mais ou menos articulada de pressão sobre o Presidente da República, circulem informações segundo as quais este “apenas” não avança para um governo de gestão porque Passos Coelho não quer. Ora, não é isto que é sugerido por figuras muito próximas do primeiro-ministro em gestão, cuja expectativa sobre um possível volte-face nesta história não pode ser mais clara. “É um acordo [entre os três partidos de esquerda] muito limitado para que o Presidente possa dar posse a um governo”, afirmou, quarta-feira à noite, Pedro Pinto, vice-presidente da comissão política nacional do PSD, numa sessão com militantes em Setúbal.

Já entre os parceiros sociais vai uma distância entre a urbanidade e a saudável discordância democrática e os que parecem querer desenterrar um espírito das mocas de Rio Maior de má memória, como aconteceu com a Confederação dos Agricultores de Portugal à saída do encontro com Cavaco. Em contraste com a Confederação do Comércio e Serviços, claramente a mais aberta e disponível ao diálogo “com qualquer governo que seja colocado em funções”, embora diga: “Não simpatizamos muito com governos de gestão, [porque] a economia precisa de decisões e as empresas de estabilidade.” E até tem abertura para “aumentar o salário mínimo”, objectivo que conta com a oposição frontal dos patrões da CIP e da CAP. Hoje será a vez das centrais sindicais e espera-se que não deitem mais achas para uma fogueira que tanto está a dividir os portugueses.

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