Ana Cristina Cesar é a homenageada da Festa Literária de Paraty 2016

Depois de Clarice Lispector numa das primeiras edições, é agora a vez de outra autora de culto ser consagrada na FLIP.

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Ana Cristina Cesar Divulgação IMS
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Memórias de uma Criança Cecília Leal de Oliveira - Acervo IMS
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I'm Going To Pass Around Cecília Leal de Oliveira - Acervo IMS

A autora carioca Ana Cristina Cesar (1952-1983) é a homenageada da Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP) que vai realizar-se no Brasil entre 29 de Junho e 3 de Julho. E é também uma homenagem à Poesia Marginal, de que ela era considerada o expoente. Além de poeta, foi crítica literária e tradutora.

“A poesia é uma força na FLIP: é sintomático que o livro da Matilde (Jóquei) tenha sido o mais vendido na FLIP 2015, e o da Bruna Beber (Rua da Padaria) tenha sido o mais vendido em 2013. E a poesia contemporânea brasileira tem a marca de Ana Cristina”, explica ao PÚBLICO Paulo Werneck, o curador desta festa literária.

Desde a primeira edição, em 2003, é a segunda vez que aquele que é o mais importante festival literário brasileiro terá como homenageada uma mulher, depois de, em 2005, ter sido a escritora Clarice Lispector (1920-1977) a escolhida. Na última edição da FLIP, o autor homenageado foi o escritor Mário de Andrade.

No próximo ano não se comemora nenhuma efeméride relacionada com a escritora que tem a poesia reunida publicada no livro Poética (Companhia das Letras, 2013), organizado pelo poeta Armando Freitas Filho, indicado pela família como curador literário da obra depois da morte da autora no Rio de Janeiro.

“A intenção é jogar luz sobre uma autora extraordinária, nada mais do que isso. Ana C. morreu há quase 35 anos, é um bom momento para voltar a sua obra”, afirma Paulo Werneck lembrando que entre os poetas que estiveram nas últimas edições da FLIP, Ana Cristina Cesar é uma espécie de marca fundamental.

A autora que em Portugal tem a sua poesia publicada na antologia Um Beijo que Tivesse um Blue (edições Quasi, 2005, com selecção e prefácio de Joana Matos Frias) “influenciou profundamente” toda uma geração de poetas brasileiros como Ana Martins Marques, Angélica Freitas, Bruna Beber, Mariano Marovatto, Marília Garcia e até Gregorio Duvivier. “Para não falar em Francisco Alvim, Eucanaã Ferraz, Carlito Azevedo, ou mesmo na Matilde Campilho”, lembra ainda Werneck. “Queremos sublinhar essa influência e fazer conhecer melhor a obra de Ana Cristina. Além disso, a homenagem convoca a geração da Poesia Marginal, que tem poetas muito importantes e activos, alguns em vias de consagração”, acrescenta.

O curador da FLIP explica que esses poetas marginais dos anos 1970 (época da ditadura militar no Brasil), da chamada “Geração Mimeógrafo’, tinham um “ímpeto admirável” de divulgação das obras através de meios alternativos. Faziam-no à margem do mercado editorial - na praia, em festas, através de espectáculos e de performances, bem ao espírito desses anos 70 mas com uma relação directa com o que se passa hoje em dia. Estes autores fizeram também "uma leitura fundamental" de Drummond e dos grandes poetas do modernismo brasileiro. “Vai ser bonito ver isso tudo em Paraty”, conclui o curador que estará à frente da programação da festa literária pelo terceiro ano consecutivo. 

Alguns poemas de Ana Cristina Cesar estão incluídos na importante antologia 26 poetas hoje (1976), organizada por Heloísa Buarque de Hollanda, que foi sua professora e onde a autora carioca aparece ao lado de outros colegas do movimento Poesia Marginal, como Cacaso (Antonio Carlos de Brito), Chacal, Francisco Alvim, Charles Peixoto, Geraldo Carneiro, Waly Salomão, Eudoro Augusto.

Mas a obra que a revelou aos leitores brasileiros e fez começar um culto que se tem estendido por décadas, como lembra a organização da FLIP em comunicado, foi o primeiro livro da célebre colecção Cantadas Literárias, da editora Brasiliense, A teus pés que reunia três livros publicados por Ana Cristina Cesar em edição artesanal: os versos de Cenas de Abril, a Correspondência completa (longa carta endereçada a “My dear”) e o diário Luvas de pelica

 

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