Bispos apelam à “serenidade” perante um processo “normal” da vida democrática

Cardeal-patriarca diz que reposição dos feriados civis e não dos religiosos é “laicização excessiva da sociedade”.

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D. Manuel Clemente quer ver uma "clarificação necessária" sobre os acordos que estarão na base de um novo governo. Fernando Veludo/NFACTOS

O cardeal-patriarca, Manuel Clemente, acredita que o país está “num momento de escolhas, de opções” para “garantir o melhor futuro” e, nesse sentido, reclama por “serenidade e calma, com certeza que há diversas posições em confronto, mas isso faz parte da vida democrática normal”. “Respeitemos e procuremos todos o melhor caminho dentro do quadro constitucional em vigor”, defendeu o patriarca de Lisboa.

A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) terminou nesta quinta-feira os trabalhos da sua assembleia plenária, a reunião magna do episcopado português. Os bispos reunidos em Fátima debruçaram-se sobre a “actual situação do país, desejando que tudo decorra no quadro constitucional, sem excessiva crispação sociopolítica, geradora de insegurança e desmotivação”.

A Igreja Católica apela "à cultura de diálogo e de encontro no respeito recíproco, à informação verdadeira e transparente, à sobreposição dos interesses nacionais acima dos particulares, à dignificação da política, aos consensos nas questões fundamentais, à reconciliação e à paz na diversidade, em que todos os cidadãos se sintam responsáveis", refere o comunicado final lido pelo porta-voz da CEP, padre Manuel Barbosa.

Na conferência de imprensa que se seguiu à leitura do comunicado, o presidente da CEP, cardeal-patriarca Manuel Clemente, falou, “a título pessoal”, sobre a necessidade de uma clarificação eleitoral: "Como cidadão quero ver, antes de mais, a clarificação do que há, porque tanto quanto eu vi na comunicação social, mesmo os acordos que estarão na base de um possível governo ainda precisam de maior esclarecimento, concretamente em termos da opinião pública", afirmou.

Referindo-se aos partidos mais à esquerda, o cardeal-patriarca de Lisboa salientou que "são cidadãos como os outros cidadãos, apresentaram-se à eleição, tiveram os votos que tiveram, combinam-se com as outras forças políticas que estão presentes na Assembleia da República, é daí que saem os governos depois por indicação do Presidente da República".

Sobre a eventualidade do trabalho das instituições sociais poder ser colocado em causa por um governo sustentado no parlamento pelo PCP e Bloco de Esquerda, Manuel Clemente avisou que "se isso for assim, temos de conversar", assinalando que a "subsidiariedade está inscrita nos textos europeus, não é privativa da Igreja Católica".

Repor todos os feriados
Manuel Clemente falou ainda do compromisso do PS em repor, em 2016, os quatro feriados eliminados pelo anterior executivo. Os socialistas tinham informado que esta reposição seria feita em duas fases – primeiro os feriados civis e depois, após negociações com as entidades competentes, os religiosos.

“A laicidade é um valor”, mas “a sociedade é um organismo vivo que transporta tradições, culturas, momentos de encontro, festas, ocasiões, lembranças, e isso tem de estar presente e tem de ser considerado”, afirma o patriarca. Não considerar esses valores, julga D. Manuel, “é mais um sintoma de uma laicização que eu considero excessiva da sociedade”, até porque “há uma considerável parte da população portuguesa que se refere à tradição católica, que veicula esses valores e que pode também ter essa materialização em datas consignadas”.

Manuel Clemente defende que “uma laicidade encarada positivamente não é um vazio das tradições religiosas” e relembra que a supressão dos feriados religiosos foi matéria objecta de uma "negociação entre o Estado português e a Santa Sé”. “Tanto quanto sei, da parte da Nunciatura ainda não se recebeu nenhuma sugestão. Se alguma vez vier, analisaremos o caso, na medida em que também somos parte interessada”, concluiu.

Em 2013, o Governo PSD/CDS liderado por Pedro Passos Coelho suprimiu quatro feriados, dois religiosos, o de Corpo de Deus em Junho (feriado móvel), e o dia 1 de Novembro, dia de Todos os Santos, e dois civis, 5 de Outubro, Implantação da República, e o 1º de Dezembro, Restauração da Independência. com Lusa

Notícia editada por Leonete Botelho

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