Nova técnica permite “dissecar” deficiências motoras

Trata de um software, baptizado LocoMouse e desenvolvido em Portugal por uma equipa de neurocientistas.

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Nova técnica permite “dissecar” deficiências motoras Cortesia da Fundação Champalimaud

Investigadores da Fundação Champalimaud em Lisboa desenvolveram uma técnica que permite medir, de forma muito detalhada, défices específicos da coordenação motora no ratinho. O seu trabalho foi publicado na terça-feira na revista online de acesso livre eLife.

Andar em linha recta, apesar de ser algo quase trivial que todos fazemos no dia-a-dia, exige um alto nível de coordenação motora. No cérebro, essa coordenação, bem como a capacidade de manter o equilíbrio corporal enquanto nos movemos, estão a cargo de uma estrutura: o cerebelo. E quando o cerebelo sofre lesões – por exemplo na sequência de doenças ou infecções –, os movimentos que normalmente fluem sem sobressaltos tornam-se desorganizados. “As pessoas que sofrem de lesões numa parte do cérebro chamada cerebelo têm problemas no andar e noutras actividades que requerem equilíbrio e coordenação”, explica a neurocientista Megan Carey, que liderou a equipa, citada em comunicado da fundação.

Para estudar este tipo de perturbações, os especialistas recorrem a ratinhos com lesões no cerebelo, que apresentam de facto sintomas semelhantes aos dos humanos. Mas até aqui, era difícil analisar os défices de coordenação motora nestes animais em pormenor. Isto porque, explicam os autores no seu artigo, não tinha sido possível separar umas das outras as diversas componentes dessas deficiências motoras.

Agora, afirmam, a nova ferramenta por eles desenvolvida – um software baptizado LocoMouse – vai permitir fazer exactamente isso – e, ao mesmo tempo, perceber melhor como é que o cérebro normal, sem lesões, gera os movimentos coordenados. “O desenvolvimento do LocoMouse constitui o primeiro passo de um projecto a longo prazo, que tem como objectivo revelar os circuitos neuronais responsáveis pela coordenação durante a caminhada”, acrescenta Megan Carey.

Quando os cientistas utilizaram o LocoMouse para analisar a locomoção de ratinhos com degenerescência cerebelar, tiveram uma surpresa: descobriram que, ao contrário do que indicavam estudos anteriores, muitos movimentos estão conservados nos ratinhos com esta deficiência, explica o mesmo comunicado. Em particular, os movimentos individuais de cada pata dos ratinhos com lesões eram indistinguíveis dos ratinhos sem problemas cerebelares.

Onde os défices motores se manifestavam de facto era ao nível dos movimentos coordenados, que requerem a capacidade de prever e compensar as consequências de mover simultaneamente diferentes partes do corpo.

Os cientistas, que puseram o seu novo software à disposição da comunidade científica internacional, tencionam utilizar o LocoMouse para estudar ao pormenor os circuitos neuronais responsáveis por estas deficiências da coordenação motora.

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