Mega-prémio de ciência atribuído a 1377 físicos

Quatro cientistas a trabalhar em Portugal repartem 2,79 milhões de euros com 1377 físicos premiados por investigação nos neutrinos. Prémios Breakthrough atribuem ainda 16,75 milhões de euros a mais seis cientistas.

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Detector de neutrinos Super-Kamiokande, no Japão DR

Na terceira edição, os Prémios Breakthrough de 2016 valorizaram a ciência colectiva ao distinguir, na categoria da física fundamental, 1377 físicos pelas suas descobertas sobre os neutrinos, atribuindo-lhes 2,79 milhões de euros (três milhões de dólares). Entre todos estes investigadores estão quatro cientistas que trabalham no Laboratório de Instrumentação e Física Experimental de Partículas (LIP), em Lisboa. Os Prémios Breakthrough, que valem ao todo 19,54 milhões de euros (21 milhões de dólares), distinguiram ainda um matemático e cinco investigadores das ciências naturais, soube-se neste domingo.

Lançados em 2012 para “celebrar a ciência e os cientistas e gerar o entusiasmo por uma carreira científica”, os Prémios Breakthrough são anuais e atribuem um prémio no valor de três milhões de dólares (2,79 milhões de euros) na área da física fundamental, outro do mesmo valor na área da matemática, e até seis prémios (cada um de 2,79 milhões de euros) na área das ciências da vida.

Criado pelo multimilionário russo Iuri Milner, estes prémios contam ainda com a contribuição de vários empresários que enriqueceram na era da Internet, como o co-fundador da Google Sergey Brin, o fundador da Facebook Mark Zuckerberg, a fundadora da empresa 23andMe Anne Wojcicki e o magnata chinês Jack Ma. O valor de cada um dos prémios é maior do que cada um dos Prémios Nobel – galardões com uma longa tradição, muita visibilidade e prestígio, que atribuem 860.000 euros por cada um dos seis prémios.

Este ano, o prémio em física fundamental trouxe um significado que Iuri Milner fez questão de explicar. “Há uma mensagem aqui de que a ciência é hoje um esforço muito mais colectivo do que era há 100 anos”, disse o russo, durante a cerimónia de domingo, transmitida para as televisões, e que teve lugar no Centro de Investigação Ames, da NASA, que fica na Califórnia, Estados Unidos. “A ciência é hoje internacional, diversa e envolve muitas pessoas”, explicou, citado numa notícia da revista Nature.

O galardão foi atribuído a cinco equipas, onde se incluem sete cientistas que chefiaram estas equipas líderes e mais 1370 investigadores “pela descoberta fundamental e investigação das oscilações dos neutrinos, revelando uma nova fronteira para lá, possivelmente muito para lá, do Modelo-Padrão da física de partículas”, avança um comunicado do prémio.

Os neutrinos são partículas de três tipos que raramente interagem com a matéria. A maioria dos neutrinos que chega a Terra foi criada durante reacções nucleares no interior do Sol. Segundo o Modelo-Padrão, os neutrinos não têm massa. No entanto, as experiências para detectar neutrinos feitas no Super-Kamiokande – um tanque com água pura e 11.000 detectores de luz, construído a 1000 metros de profundidade, no Japão – e no Observatório de Neutrinos de Sudbury (SNO) – outro tanque situado a 2000 metros de profundidade, no Canadá – mostraram que os neutrinos terão, afinal, alguma massa.

Os neutrinos vindos do Sol são todos neutrinos do electrão (há ainda os neutrinos do muão e os neutrinos do tau). Mas as duas experiências detectaram que à Terra chegavam outros neutrinos que não os do electrão. Por isso, estes neutrinos teriam de ter mudado de tipo, uma mudança que, segundo os físicos, exige que as partículas tenham massa.

O Nobel da Física de 2015 tinha sido atribuído pelas mesmas razões ao japonês Takaaki Kajita, da Universidade de Tóquio, e um dos dois líderes da colaboração do Super-Kamionde, e ao canadiano Arthur McDonald, professor emérito da Queen’s University, no Canadá, líder do SNO. Estes cientistas voltam agora a ser premiados, mas partilham o prémio com as suas equipas e com os restantes cinco cientistas principais e as suas equipas.

Cada uma das cinco equipas recebe 600.000 dólares (558.000 euros), um quinto do prémio. Dois terços deste valor vão para o líder da equipa, o terço restante é dividido por cada um dos 1370 investigadores.

Os cientistas Nuno Barros, José Maneira e Gersende Prior, do LIP, fazem parte da equipa de Arthur McDonald. Já Sofia Andringa, também do LIP, compõe a equipa de Koichiro Nishikawa, líder das colaborações K2K e T2K (duas experiências para detectar as oscilações dos neutrinos no Japão). Contas feitas, cada um dos investigadores do LIP receberá cerca de 650 euros.

Nas ciências da vida, dois dos cinco galardões foram atribuídos a Edward S. Boyden, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, nos EUA, e a Karl Deisseroth, da Universidade de Stanford, na Califórnia, que desenvolveram a técnica de optogenética, que permite programar geneticamente neurónios para reagirem a exposição de luz, possibilitando assim analisar a actividade eléctrica dos circuitos neuronais.

John Hardy, da University College de Londres, recebeu o galardão por descobrir mutações no gene da proteína percursora da amilóide, que causam precocemente a doença de Alzheimer. Pela descoberta de variações genéticas humanas que alteram os níveis e a distribuição de colesterol e outros lípidos, foi atribuído o galardão a Helen Hobbs, da Universidade do Sudoeste do Texas. Já Svante Pääbo, do Instituto Max Planck para a Antropologia Evolucionária, na Alemanha, recebeu o galardão por ser pioneiro em sequenciar genomas antigos relacionados com a evolução humana.

Por fim, o matemático Ian Agol, da Universidade da Califórnia, recebeu o prémio de matemática por “contribuições para topologia geométrica e teoria geométrica de grupos”, segundo o site do prémio.

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