PSD denuncia acordo autárquico com PS em Almodôvar e é acusado de “vingança”

Os líderes locais dos dois partidos acusam-se mutuamente de estarem a seguir uma estratégia nacional mas os responsáveis a nível distrital desmentem alegando não fazer qualquer sentido.

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No Alentejo, foi no concelho de Almodôvar que o conflito PS-PSD se tornou mais evidente Daniel Rocha

O PSD de Almodôvar mudou de liderança em Dezembro de 2014, mas só em Outubro de 2015 é que colocou em causa o “entendimento local” que este partido estabeleceu com o PS, na sequência das últimas eleições autárquicas. O actual presidente da concelhia laranja Fernando Palma fundamenta a decisão, alegando que o seu antecessor Ricardo Colaço “não negociou com rigor e exigência o acordo”, nem os socialistas “cumpriram até à data os objectivos eleitorais a que se propuseram”.

O PS assume que ficou surpreendido com “o tom de vingança” utilizado pelo presidente da concelhia do PSD local Fernando Palma por se “aproveitar do facto da Coligação Portugal à Frente e o Partido Socialista não terem chegado a acordo nas negociações com vista à formação de um governo” para “provocar a mesma instabilidade” na Câmara de Almodôvar, presidida pelo socialista António Bota.

Fernando Palma reage no mesmo tom, acusando o seu opositor de procurar instalar a nível local “o clima político que se vive a nível nacional” realçando “a postura do Partido Socialista em aliar-se à esquerda”.

A revogação do “acordo de governação” que o PSD negociou com o Partido Socialista após as autárquicas de 2013 abrange todos os órgãos autárquicos do concelho.

Num comunicado datado de 28 de Outubro, a concelhia de Almodôvar do PSD esclarece que passa a “supervisionar” a acção política dos seus eleitos nos órgãos autárquicos e a “definir” orientações políticas com “carácter vinculativo” do vereador Ricardo Colaço e dos membros da Assembleia Municipal do PSD, que tenham pelouros distribuídos, assim como a presença na mesa da Assembleia Municipal, liderança da bancada e estratégia a adoptar pelo partido no concelho.

Fernando Palma definiu como objectivo prioritário da sua liderança “apostar na revitalização e na recuperação da dinâmica perdida” e “vencer as próximas autárquicas em Almodôvar”.

No meio da polémica gerada, o presidente da comissão política concelhia do PS de Almodôvar, Duarte Sousa, veio defender o vereador do PSD Ricardo Colaço - anterior presidente da concelhia social-democrata, que negociou o acordo agora revogado - ao referir que o mesmo “tem respeitado na sua plenitude, e até à data, o acordo em causa”.

Mário Simões, presidente da Distrital de Beja do PSD, garantiu ao PÚBLICO que “não houve nenhum acordo político” negociado entre PSD e PS na sequência das eleições autárquicas de 2013 e que este último partido ganhou com maioria relativa. Um tal acordo prossegue o líder distrital, “teria de ter tradução escrita e ser aprovado pelo órgão máximo a nível distrital e nacional, e tal não aconteceu”, esclarecendo que a negociação entre os dois partidos passou por “um entendimento local de governação do município”.

A “ruptura”, garante Mário Simões, “não é resultante de uma revanche política” consequência do que se passa a nível nacional. O cerne do problema, prossegue este responsável, está na atitude “arrogante e autista” do presidente de câmara socialista que deixou de estabelecer diálogo” com o vereador Ricardo Colaço no executivo municipal.

“Não se pode fazer nenhuma extrapolação do que se passa no âmbito nacional para o que aconteceu em Almodôvar” adverte, por sua vez, Pedro do Carmo, presidente da Federação Socialista do Baixo Alentejo, caracterizando o conflito de puro “tacticismo partidário” ao colocar em causa “tudo o que foi acordado em 2013”.

O líder socialista aconselha ponderação, frisando que no Alentejo “há acordos de âmbito autárquico para todos os gostos” destacando os que funcionam em duas freguesias de Beja entre a CDU e o PSD. “ Importa perceber que os acordos entre partidos espelham apenas especificidades locais”.

O conflito de Almodôvar já se reflectiu na votação da proposta de Orçamento e das Grandes Opções do Plano para 2016, no passado dia 30 de Outubro, chumbada com dois votos do Movimento Independentes Por Almodôvar e um voto do PSD, contra dois votos favoráveis do PS.

Mário Simões diz que o PSD vai apresentar à liderança socialista um novo caderno de encargos “para chegar a um entendimento” vincando que o seu partido “não assume coligações negativas”.

Assim, está agendada para esta terça-feira, dia 10 de Novembro, uma reunião extraordinária do executivo municipal de Almodôvar para que as propostas sejam de novo votadas.

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