O “efeito Mario Draghi” na confiança e recuperação económica da Europa

Passaram quatro anos desde que o novo presidente do Banco Central Europeu assumiu as suas funções, e ao recordar tudo o que se passou, parece que foi há bastante mais tempo. A intensidade das situações vividas no panorama económico europeu, e no mercado de capitais em particular, contribui para a sensação que muito foi feito para retirar a europa da situação difícil em que se encontrava em finais de 2011 (crescimento do PIB da Eurozona de 0,6%), piorando em 2012 (crescimento negativo do PIB em 1%) para se atingir uma perspectiva de crescimento do PIB de 1,6% para 2015, de acordo com os dados recentemente divulgados pela Comissão Europeia.

A inversão de tendência, ultrapassando eventos históricos e económicos significativos para a Europa, retirando-a da crise financeira, é chamado o “efeito Mario Draghi”. Não são indiferentes a qualquer pessoa mais atenta as palavras proferidas em meados de Julho de 2012 por Mario Draghi em plena crise de confiança do Euro. Nesta altura em que estava a ser colocada em causa a coesão europeia e da sua moeda, consequência da crise financeira na Grécia, e o imediato alastrar da situação para os países periféricos, Mário Draghi proferiu num discurso a célebre frase “What ever it takes”, ou seja, faria o que fosse preciso para salvar o Euro. A percepção foi imediata de que tudo o que estava a acontecer iria ter um suporte diferente e o rumo da Europa iria mudar.

Neste momento, gostaria de relembrar alguns dados estatísticos para além dos valores do PIB da Zona Euro anteriormente mencionados, de forma a evidenciar melhor a amplitude do “efeito Mario Draghi “: no dia 26 de Julho de 2012 (dia do famoso discurso) o mercado accionista europeu (índice Eurostoxx 50) transaccionava nos 2.251,05 pontos, a dívida alemã a 10 anos apresentava uma yield de 1,32%, a dívida portuguesa a 10 anos tinha uma yield de 11,34% e o Euro/Dólar transaccionava a 1,2278.

Após o ano de 2012 em que o programa de ajuda financeira aos bancos (o chamado LTRO – Long Term Refinancing Operation) atingiu o valor de um bilião de euros, Mario Draghi continuava a dar estímulos e indicações ao países europeus que apresentavam maiores dificuldades económicas ou que se encontravam em “resgate“ financeiro pela Troika, que o suporte do Banco Central Europeu se mantinha intacto e que o acesso à ajuda financeira era mais flexível. Esta situação permitiu um novo fôlego de confiança não só para os países em dificuldades financeiras, como para a Europa como um todo.

Paralelamanente, perante a necessidade de maiores estímulos e a ameaça de uma descida constante dos valores da inflação (acompanhando também a queda do valor do petróleo), Mario Draghi inicia um ciclo de redução das taxas de referência, que culmina no valor negativo da taxa de deposito em 0,2% e a taxa de referência em apenas 0,05%, situação actual. Mais uma vez, o presidente do Banco Central Europeu a ter que intervir e mais uma vez as suas intervenções a terem um impacto significativo no mercado. Há muito tempo que também era necessária uma intervenção mais rápida e eficaz na Europa, principalmente na hora de agir, um pouco à semelhança do que há muito acontece aquando das intervenções do presidente da Reserva Federal Americana, a FED.

Finalmente, as palavras proferidas por Mario Draghi têm repercuções imediatas no mercado e as suas acções são cada vez mais atempadas, procurando solucionar os problemas que uma Europa unida necessita. A última medida de quantitative easing, iniciada no final de 2014, procura dar ainda maior liquidez ao mercado financeiro europeu através da compra de determinados activos financeiros a entidades europeias, recomprando cerca de 60 mil milhões de euros por mês de dívida pública, ABS e covered bonds, até pelo menos Setembro de 2016. Estas medidas que estávamos mais habituados a verificar por parte do bloco económico do outro lado do Atlântico, fazem agora parte da estratégia de Mario Draghi para fomentar ainda mais a economia europeia e combater a contínua descida da inflação, os impactos da queda do petróleo e a redução do crescimento económico verificado nas economias emergentes, nomeadamente na China.

Voltando aos dados estatísticos, referidos anteriormente, e após o discurso de Mario Draghi de 26 de Julho de 2012 até à quarta-feira passada, dia 4 de Novembro, constata-se o seguinte: o mercado accionista europeu (indice Eurostoxx 50) encerrou nos 3.439,16 pontos, tendo subido 53%, a dívida alemã a 10 anos situava-se nos 0.60%, a dívida portuguesa a 10 anos apresenta uma yield de 2.56% e o Euro/Dólar transacciona nos 1,0856.

E isto, em grande parte, fruto do “efeito Mario Draghi”.

Director de estratégias de investimento e soluções para clientes da Orey Financial 

 

Sugerir correcção
Comentar