Tiago Bettencourt: Nos Coliseus da sua vida

Habituou-se a olhar para os Coliseus do Porto e de Lisboa como salas emblemáticas para final de digressões. Este sábado, no Porto, e no próximo fim-de-semana em Lisboa, Tiago Bettencourt sobe ao palco para revisitar o seu percurso, desde os Toranja.

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Ao longo dos anos Tiago Bettencourt passou muitas noites nos Coliseus de Lisboa e do Porto, assistindo a concertos de alguns dos seus músicos e grupos de eleição. Este sábado, no Coliseu do Porto, e a 14 de Novembro, no Coliseu de Lisboa, os papéis invertem-se e é ele a subir ao palco das duas emblemáticas salas, com alguns convidados como Pedro Abrunhosa, Márcia e Fred Pinto Ferreira (no Porto) e Paulo Gonzo e Márcia (em Lisboa).

“Claro que estes concertos possuem uma forte simbologia, até porque passei a minha vida a ir ver concertos ao Coliseu e é uma sala onde sempre quis tocar”, diz-nos ele, referindo que não irão ser tocadas apenas canções do último álbum (Do Princípio de 2014) mas que a opção será a revisitação de todo o seu percurso. “O álbum já saiu há algum tempo mas a digressão acaba agora, até porque o Verão forte foi o de 2015. É nos Coliseus, mas se não fosse seria no São Jorge ou na Aula Magna, embora desta vez tenhamos decidido arriscar. Vamos ver como a coisa funciona.”

É provável que corra bem. É plausível que Tiago Bettencourt não seja o primeiro nome que em Portugal associamos ao êxito imediato. Mas na verdade, ao longo dos anos, foi construindo uma base fiel de admiradores, movendo-se num território onde não existem muitos outros a operar como ele, não encaixando na prateleira do músico popular português, nem no alternativo. “Não sou pop, nem alternativo, situo-me aí algures num plano intermédio”, assegura ele, “o que de alguma forma me prejudica, porque vejo portas fecharem-se de um lado e de outro.”

Talvez. Mas por outro lado, como o próprio reconhece, “vou conseguindo fazer aquilo que quero e que gosto de fazer, o que não é fácil num mercado exíguo como o nosso. Ao longo dos tempos fui criando um público relativamente fiel o que me permite sobreviver da música e fazer aquilo de que mais gosto.”  

Para Tiago Bettencourt tudo começou em 2003 quando os Toranja lançaram o álbum Esquissos. Ele era o vocalista e o sucesso desse álbum e do single A carta haveriam de marcá-lo para sempre. “Nessa altura era tudo muito inocente”, recorda ele. “Comecei a fazer música e de imediato lançamos um álbum e a primeira vez que entrei num estúdio de gravação foi logo para gravarmos.”

Hoje quando olha para trás reconhece que foi tudo muito rápido, mas talvez não pudesse ter sido de outra forma. “Muita gente interpretou mal os Toranja naquela altura, mas quando olho para trás insiro-os perfeitamente no meu percurso. Depois fui crescendo, procurando outros caminhos, mas o princípio foi ali e não há que negá-lo. Aliás continuo a tocar A Carta e o Laços.”

E um possível regresso dos Toranja para concertos, como aconteceu o ano passado com os Silence 4, seria possível? “Por acaso, há pouco tempo, fui ouvir a gravação de um concerto no Porto e achei que não estávamos a tocar nada mal e pensei se não teria piada a coisa acontecer. Mas a verdade é que estou a divertir-me com o que estou a fazer e com os músicos com quem estou a tocar, por isso um regresso desses não está no horizonte.”

Os Toranja venderam 60 mil exemplares do primeiro álbum, números que dificilmente se repetem hoje no mercado português e ele tem noção disso. “A sensação que tenho é que quando entrei para a música foi no exacto momento em que a indústria se ia fragmentando. Depois foi o descalabro até hoje. As pessoas quase já não compram CDs e em Portugal o mercado digital é também quase inexistente. Claro que quero muito continuar a gravar discos mas tenho a noção que o mercado está muito diferente.”

Depois dos Toranja vieram os álbuns a solo O Jardim (2007), Em Fuga (2010), Tiago Na Toca & Os Poetas (2011), Acústico (2012) e o mais recente Do Princípio. Tudo registos que encara com afeição, porque na sua visão “um álbum é como um livro, com capítulos que não são separáveis”, mas a verdade é que, diz ele, “temos de aceitar que muitas pessoas já não ouvem o álbum, ficando-se pelos singles, embora fique radiante quando me pedem para tocar as canções menos óbvias, sintoma de que não estão nos concertos apenas por eu ser moda, mas porque faço parte das suas vidas.”  

Em muitas entrevistas descreve-se como sendo tímido, mas não olha para o palco como lugar de superação. “Não sou diferente em palco e fora dele”, diz. “Não arranjo uma personagem. Essa timidez existe, mas olho mais para os concertos como um desafio à minha competência.” Este sábado esse desafio faz-se no Porto e no próximo fim-de-semana em Lisboa e  Tiago Bettencourt não tem dúvidas que irá tocar perante públicos diferentes: " O país é pequenino, mas o público varia”, ri-se. “O de Lisboa é um pouco mais distanciado, talvez porque aqui – parece-me – as pessoas vão a concertos com mais frequência. O do Porto é mais emotivo.”  

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