Le Butcherettes: sangue e rock’n’roll em Lisboa e Leiria

A banda da mexicana Teri Gender Bender editou há um mês A Raw Youth, o seu terceiro álbum, onde encontramos Iggy Pop e John Frusciante. Esta sexta-feira apresenta-se no Sabotage, em Lisboa; sábado, no Teatro José Lúcio da Silva, em Leiria.

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A banda, que vem chamando a atenção pela abrasiva e perturbadora presença em palco, regressa a Portugal três anos depois DR

A postura em palco é, dizem os relatos, perturbada e perturbadora. Teri Gender Bender, vocalista e guitarrista, arrojando-se no chão, provocando o público, lançando sangue sobre si mesma enquanto continua a ouvir-se a música do trio, entre o punk directo ao assunto e o hard-rock preparado para headbanging, com sintetizadores extraídos ao pós-punk pintado a negro, passe a redundância, a completar o cenário.

Chamam-se Le Butcherettes e são uma invenção de Teri Gender Bender, nascida Teri Suarez em Guadalajara, México, hoje habitante de El Paso, Estados Unidos. Depois de se tornarem banda de culto no seu país, onde editaram o EP Kiss & Kill (2008), alargaram horizontes com a mudança para os Estados Unidos. Aí editaram Sin Sin Sin (2011) e Cry Is For The Flies (2014). Há cerca de um mês chegou A Raw Youth, o álbum que apresentarão esta sexta-feira no Sabotage Clube, em Lisboa (22h, 8 euros; primeira parte a cargo dos leirienses Twin Transistors, banda que segue a rota aberta por Spacemen 3, Brian Jonestown Massacre e The Black Angels e que prepara actualmente o álbum de estreia). Sábado, a banda apresentar-se no Teatro José Lúcio da Silva, em Leiria (21h30, 8 euros), incluída na programação do Estilhaços 2015, que ocupa aquele espaço entre sexta e domingo.

Esta não é a primeira vez que a banda de Teri Gender Bender, que é agora acompanhada pela baixista Jamie Aaron Aux e pelo baterista Chris Common (ex-These Arms Are Snakes), se apresenta em Portugal. Vimo-la no festival Paredes de Coura de 2011 e voltámos a vê-la na primeira parte do concerto que os Mars Volta deram no Coliseu dos Recreios em 2012. A ligação aos Mars Volta é, de resto, próxima. Ou melhor, é próxima a relação com o guitarrista Omar Rodriguez-López. Foi ele o produtor de A Raw Youth e dos dois álbuns anteriores.

Com o passar dos anos, a banda vem recolhendo apoios célebres: Shirley Manson, que Teri classifica como sua “heroína”, é um deles, a par de Mike Patton (A Raw Youth foi editado na sua Ipecac Recordings), de Iggy Pop (que ouvimos a cantar em castelhano gutural em La uva, do último álbum), ou de John Frusciante (que também participa no disco mais recente). A postura nos concertos, que tem valido a Teri várias comparações a Karen O, dos Yeah Yeah Yeahs, o imaginário repleto de negrume e violência e o feminismo actuante têm feito crescer a curiosidade sobre a banda.

Teri Gender Bender, que identifica o momento em que despertou decisivamente para a música e para o punk com a descoberta dos Dead Kennedys, Bikini Kill e Black Flag, explicou recentemente em entrevista à Noisey que a sua música emana da realidade turbulenta da identidade mexicana. “O México cresceu sobre o sangue de sacrifícios humanos. Todas as pirâmides lá estão alinhadas matematicamente com o sol e a lua. Foram construídas sobre o sangue de escravos e é por isso, julgo, que a cultura mexicana é obcecada pela morte. Celebramos a morte e até a tragédia”, declarou.

Celebremos igualmente? Venha o rock’n’roll para decidirmos de vez.

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