Assis deseja que haja livre troca de opiniões nas reuniões do PS

António Costa convoca reunião para sábado, obrigando o eurodeputado a desmarcar o almoço marcado para a Mealhada.

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Francisco Assis desmarcou o almoço previsto para sábado na Mealhada Enric Vives-Rubio

Francisco Assis, o rosto da denominada “corrente alternativa” do PS, espera que a reunião da comissão nacional, convocada por António Costa para sábado, “decorra num ambiente favorável à livre e leal troca de pontos de vista e contraposição de opiniões”, porque o “PS é um partido profundamente livre, plural e democrático”.

A marcação da comissão nacional, que antecede a reunião da comissão política nacional, que acontecerá domingo à noite, obrigou Francisco Assis a cancelar o almoço com os militantes que discordam de entendimento à esquerda, que estava marcado para sábado, na Mealhada. Costa trocou as voltas aos críticos, mas estes vão marcar um novo encontro dentro de dias.

Ao PÚBLICO, o eurodeputado Francisco Assis diz que se justifica a reunião do órgão máximo do partido entre congressos - “uma decisão desta natureza tem que ir à comissão nacional” -, mas afirma desconhecer se o secretário-geral leva o acordo fechado com a esquerda, ou não. De resto, a convocatória enviada pelo presidente do partido, Carlos César, também não esclarece as dúvidas de Assis, porque da agenda faz apenas parte a análise da situação política. Carlos César invoca o “interesse excepcional que envolve a discussão sobre a actual situação política" para justificar a convocação da reunião, marcada para sábado às 15h30.

Desde que começaram as negociações do PS com os partidos à sua esquerda ouviram-se muitas vozes a criticar a direcção do partido pelo facto de não ter convocado a comissão nacional para que o cenário de um futuro governo do PS com o apoio do Bloco de Esquerda e do PCP fosse internamente discutido.

Sem assento em nenhum órgão do partido, Assis não se mostra desconfortado por ter de cancelar o almoço e diz que a iniciativa que iria contar “com um conjunto alargado de militantes que não se reconhecem na orientação política prosseguida pela direcção do partido, realizar-se-á em breve", mas dificilmente será na próxima semana por causa da sua agenda em Bruxelas que está sobrecarregada.

Um comunicado de Francisco Assis, divulgado ao fim da tarde desta quarta-feira, reforça esta determinação, referindo que o encontro realizar-se-á “em momento ulterior". "Só assim ficam devidamente acautelados os superiores interesses do PS, cuja salvaguarda tem de prevalecer sobre todas as divergências que internamente nos separem”.

O eurodeputado adverte para o “momento de extraordinária importância que o PS vive o que obriga a um especial cuidado na observância dos princípios fundamentais que nos norteiam”. E frisa que o encontro com os militantes foi adiado em nome da “história do PS, um partido profundamente livre, plural e democrático”.

A convocação da comissão nacional e da comissão política - órgão de direcção alargada -, marcada para domingo, ocorre na véspera do Parlamento apreciar o programa do governo da coligação PSD/CDS e da apresentação de uma moção de rejeição do PCP e do Bloco. Quanto ao PS, o partido ainda não decidiu se apresenta uma moção de rejeição, tudo depende do resultado das negociações com vista a um futuro governo entre os dois partidos.

“O nosso dever é alertar para que não haja um suicídio porque o PS pode cair num precipício”, afirma um ex-dirigente do partido.

Fonte da “corrente alternativa” do PS não tem dúvidas de que António Costa convocou para sábado a comissão nacional porque “percebeu que havia já muita gente inscrita". "O número de pessoas era superior ao que estávamos à espera”, afirma, garantindo que havia mais de 300 militantes interessados em marcar presença na Mealhada.

A mesma fonte lamenta que o partido esteja “muito dividido”, mas encontra justificação para essa fractura interna. “Ser governo com o apoio do PCP e do Bloco de Esquerda é uma aventura e há um eleitorado do PS que não aceita esta solução para o país e para o partido”, refere, declarando que, se as eleições legislativas fossem agora, o PS não teria 32% dos votos, mas sim 25%, em contrapartida, a direita teria 45%”.

“Esta é a primeira comissão nacional marcada por Francisco Assis”, ironizava a mesma fonte, declarando que esta frase não é da sua autoria, mas sim de Eurico Brilhante Dias, um dos poucos deputados que era dado como certo no encontro, promovido por Assis. Apoiante de António José Seguro, no combate interno das primárias, Eurico Brilhante Dias admite ver com desconfiança a aliança entre o PS, o BE e o PCP, mas reconhece que António Costa tem legitimidade política para negociar um acordo desde que seja “positivo”, porque foi legitimado pelos órgãos do partido.

No Frente-a-Frente, na SIC-Notícias desta semana disse: “Estou muito mais próximo do que tem dito ultimamente Francisco Assis do que o dr. António Costa. Mas isso não quer dizer que concorde com tudo o que diz o Francisco Assis. Preferia que o partido seguisse outro caminho, do que ir a Governo perdendo as eleições, isso sem dúvida”.

No PS há quem já esteja a fazer contas ao desgaste que as negociações com os partidos à esquerda vão ter em termos imediatos, mas também a médio prazo. No horizonte de muitos estão já as eleições autárquicas de 2017, que podem penalizar seriamente o partido tendo em conta a sua viragem à esquerda em nome de uma solução governativa para o país.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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