A vil verdade sobre Frank Sinatra

Sinatra, The Chairman, por James Kaplan, copiosa informação sobre a vil verdade de um entertainer, e Sinatra’s Century: One Hundred Notes on the Man and his World, por David Lehman: duas biografias mesmo a tempo dos pedidos para o Natal.

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Sinatra, o mito; Sinatra o homem cheio de fraquezas Bettmann/CORBIS

Mesmo a tempo de serem incluídas nas listas de pedidos para o Natal, eis que são publicadas no mercado anglófono duas novas biografias de Frank Sinatra que ajudam a nos aproximarmos da vida de um dos maiores cantores do século XX. E não vale a pena ver no título My Way, actualmente nas livrarias portuguesas, um primeiro indício deste olhar para o Ol’ Blue Eyes. Esse My Way é biografia de Silvio Berlusconi, figura em nada coincidente com o cantor, ainda que o Financial Times tenha chamado ao magnata italiano “uma combinação de Juan Perón, Vladimir Putin e Frank Sinatra”.

Nada disso. Ou talvez um pouco. Aquilo que temos já à nossa disposição à distância de uma encomenda pela internet é uma monumental biografia de Sinatra assinada por James Kaplan, 900 páginas que compõem Sinatra, The Chairman, regresso do autor ao seu tema preferido – em 2010, Kaplan lançara Frank: The Voice. Pois agora, escreve Sibbie O’Sullivan no Washington Post, o biógrafo termina o seu mergulho em dois volumes na vida daquele que foi frequentemente descrito como o grande entertainer do século “detalhando persistentemente a vil verdade sobre Sinatra”. Ou seja, este é um retrato que nos apresenta Frank como um bully, atraído por práticas criminosas, íntimo dos bordéis, incapaz de pedir desculpa, com ligações à máfia, tendente a aplicar a sua fúria na destruição de quartos de hotel, por vezes cruel com o público e com os seus colaboradores, e autor de alguns maus discos.

Ao terminar o livro é impossível não chorar, garante O’Sullivan. Mas chorar “a morte de um enorme e inesquecível talento cujo estilo de vida ajudou a definir a América do pós-guerra”, assim como “chorar por uma América que já não existe, quer se tenha vivido aqueles anos ou apenas ansiado pelo seu regresso”. A copiosa informação a que Kaplan deita as mãos tanto respeita a entrevistas e artigos de fundo quanto a citações de imprensa especializada na coscuvilhice. Kaplan vai a todas. Sinatra, esse entertainer fatalmente inscrito numa ideia de representação da América que se vê do exterior com o charme da cultura de celebridades, aparece aqui na condição de mito e na de homem cheio de fraquezas e cedências a todo o tipo tentações.

O mais modesto tomo (268 páginas) assinado pelo poeta David Lehman, Sinatra’s Century: One Hundred Notes on the Man and his World, será publicado entretanto a 19 de Novembro. Lehman, editor das séries The Best American Poetry e The Oxford Book of American Poetry, não corre tanto atrás dos factos quanto tenta relacionar-se com eles. Sinatra’s Century é um livro em que o autor se implica, relaciona-se com as canções e com a biografia de Sinatra, mas com um ponto de vista assumido de fã. Até porque aquilo que mais o impressionou desde sempre em Sinatra, confessou ao site Stay Thirsty, é que aquele “elevou a canção popular a uma forma de arte”. É dessa ascensão que a sua obra tenta dar conta.

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