Vaticano confirma detenções por roubo e divulgação de documentos confidenciais

Um padre espanhol ligado à Opus Dei e uma relações-pública italiana, recrutada por ele para apoiar o trabalho de uma comissão de estudo de reformas financeiras, foram detidos pela polícia e acusados de trair a confiança do Papa.

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Segundo comunicado do Vaticano, os dois suspeitos traíram a confiança depositada neles pelo Papa Francisco AFP/VINCENZO PINTO

A polícia do Vaticano deteve um padre espanhol ligado à Opus Dei e uma especialista italiana em marketing e comunicação que são suspeitos de terem divulgado documentos confidenciais do Papa Francisco relativos às suas propostas de reforma da Igreja. Os dois indivíduos integraram uma comissão para as estruturas económicas e administrativas da Santa Sé, constituída em 2013 e dissolvida um ano mais tarde depois de ter apresentado um estudo com recomendações para a revisão da operação financeira do Vaticano.

Em comunicado, o Vaticano confirmou a detenção para interrogatório do monsenhor Lucio Ángel Vallejo Balda, de 54 anos, membro da Sociedade da Santa Cruz associada à organização conservadora católica Opus Dei, e de Francesca Immacolata Chaouqui, de 33 anos, ambos acusados de “disseminação de documentos confidenciais” e de “séria quebra de confiança”, num caso que a imprensa italiana designa como uma espécie de reedição do chamado “Vatileaks”, o escândalo do roubo e divulgação dos documentos secretos do Papa Bento XVI pelo seu mordomo, Paolo Gabriele.

Segundo a nota oficial, as detenções resultaram de uma investigação iniciada há meses, suscitada pelo desaparecimento de documentos no interior do Vaticano. O rasto seguido pelos investigadores concluiu pela existência de um canal de divulgação de “documentos, “notícias” e outra informação confidencial da Igreja, que estaria a ser passada de forma ilícita a dois autores italianos – segundo a imprensa local, entre o material fornecido estariam dados roubados do computador do administrador e fiscal das finanças do Vaticano, Libero Milone.

“A divulgação de documentos reservados é um delito punido por lei do Vaticano promulgada em Julho de 2013”, recorda o comunicado da Santa Sé, que reputa a acção como uma “grave traição da confiança acordada pelo Papa”. A nota diz ainda que as publicações que se baseiam neste tipo de expediente para obter informação “não concorrem, de maneira nenhuma, para clarificar, mas antes para gerar a confusão e as interpretações parciais ou tendenciosas” da actividade do Papa.

A Opus Dei lamentou “o mal causado à Igreja” pela detenção e acusação contra o monsenhor Vallejo Balda, que considerou “particularmente dolorosas”. Mas numa curta reacção, a organização lembrou que, como qualquer outro suspeito, o prelado espanhol tem direito à presunção da inocência, e que o processo ainda não terminou.

Terá sido pela mão de Vallejo Balda que a italiana de origem marroquina Francesca Chaouqui entrou na estrutura do Vaticano. A sua nomeação foi noticiada como controversa: a “provocadora” relações-públicas tinha publicado várias mensagens na sua conta de Twitter acusando oficiais do Vaticano, incluindo o antigo secretário de Estado do Vaticano, Tarcisio Bertone, de corrupção. Pouco depois, alimentou nova polémica ao publicar fotografias suas totalmente despida – apesar de defender as imagens como “nus artísticos”, acabou por eliminá-las das suas páginas na Internet.

As duas detenções aconteceram dias antes do lançamento de dois novos livros que prometem expor novos escândalos, conspirações e lutas de poder no interior do Vaticano. Um deles, com o título Mercadores no Templo, é da autoria do jornalista Gianluigi Nuzzi, cuja anterior obra, Sua Santidade, sobre o Papa Bento XVI, assentava no material fornecido por Paolo Gabriele. O outro livro caham-se Avareza e foi escrito por outro jornalista, Emiliano Fittipaldi.

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