Uma selfie premonitória

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Esta selfie é premonitória, escreve o jornalista Enric Juliana, do La Vanguardia. Celebra a eleição da independentista Carme Forcadell para a presidência do parlamento autonómico no dia 26. “É o auto-retrato do ano das emoções fortes.” E marca um corte. Uma nova geração independentista substitui a velha geração do catalanismo moderado, de Jordi Pujol a Artur Mas, o primeiro já devorado por escândalos de corrupção e o segundo a caminho de o ser. Para se tentar salvar, Mas passou para o campo independentista. Mas pertence ao passado. Já não está na fotografia.

Os novos nacionalistas não se importam com números e interesses mas com emoções. Perderam nas eleições de 27 de Setembro o “plebiscito” sobre a independência, mas isso não os impressiona. Carme Forcadell, a nova “Passionária catalã”, assume-se como portadora da consciência nacional e dos seus mitos. Interpreta o interesse nacional dos catalães, mesmo contra a vontade da maioria deles. Depois de eleita, Forcadell concluiu assim o seu discurso: “Viva a República catalã!”

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Dirigentes da coligação Juntos pelo Sim festejaram na segunda-feira a eleição de Carme Forcadell. ?Da esquerda para a direita: Lluis Llach, Marta Rovira, Carme Forcadell e Raul Romeva. Por trás de Llach está encoberto Oriol Junqueras LLUIS GENE/AFP

Na terça-feira, os independentistas da coligação Juntos pelo Sim e da Candidatura de Unidade Popular decidiram apresentar ao Parlamento de Barcelona uma proposta de ruptura com a Espanha. Juram que não se submeterão “a decisões das instituições do Estado espanhol, em particular do Tribunal Constitucional”.

Comenta Juliana: “Na Barcelona pós-moderna, turística, gestual, teatral e fortemente radicalizada pela crise económica, os principais dirigentes da ampla mas fragmentada corrente independentista acabam de tomar a decisão de assaltar a autoridade do Estado espanhol com um papel.”

A Catalunha tem históricas razões de queixa de Madrid. A questão está numa lógica política que não é de hoje. O grande historiador catalão Vicens Vives disse outrora que os políticos nacionalistas eram uma gente que preferia lutar até ao fim, mesmo sabendo que seriam vencidos, porque qualquer compromisso seria indigno.

A Catalunha está dilacerada. Os independentistas são minoritários. Mas são eles que concentram a energia. Porquê? Explicou há tempos o jornalista catalão Enric Company: “O bloco social que se está a condensar politicamente em torno do independentismo não se expande impulsionado pela consciência da força da Catalunha mas, ao contrário, pela certeza de uma fraqueza que ameaça a sua sobrevivência como nação.” É um nacionalismo infeliz — Catalonia Infelix é título que o hispanista inglês Edgar Allison Peers deu em 1937 a uma obra histórica sobre a Catalunha.

A euforia é uma das faces da moeda. A outra encerra o risco de tragédia. A selfie ilustra a euforia. Que virá a seguir?

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