Vashti Bunyan regressa para se despedir

Autora de um álbum de culto em 1970, desapareceu durante 30 anos antes de voltar aos palcos e aos discos. Estará esta sexta-feira no Maria Matos, em Lisboa, e sábado na Culturgest, no Porto, para apresentar Heartleap. Diz que será o seu último álbum.

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Vashit Bunyan regressa a Portugal dez anos depois de um concerto no Lux, em Lisboa DR

Ela não esperaria certamente que, chegada a 2014, assinasse um álbum de despedida, Heartleap, que apresentará esta sexta-feira no Teatro Maria Matos, em Lisboa (22h, bilhetes entre 7 e 14 euros, mas em vias de esgotar), e sábado na Culturgest, Porto (22h, 5 euros), nem que o fizesse enquanto cantora e compositora reconhecida pela frágil sensibilidade da sua voz e por canções tão admiradas por Devendra Banhart, Joanna Newsom ou Vetiver. Não o esperaria certamente a jovem cantora inglesa que abandonou a música de forma radical depois da dor causada pelo desdém e incompreensão a que foi votado Just Another Diamond Day, o primeiro álbum, editado em 1970.

Durante três décadas, nada. Vashti Bunyan deitara para trás das costas a ambição de, explicou ao PÚBLICO em 2005, “introduzir canções acústicas e mais profundas no universo da pop mainstream”, para o qual contara com apoios de peso (Andrew Loog Oldham, então manager dos Stones, e os próprios Stones, que lhe ofereceram Some things just stick in your mind), e desistira do bucolismo redentor, sonhador, desse Just Another Diamond Day gravado com elementos dos Fairport Convention ou Incredible Stringe Band. Andrew Loog Oldham desistira dela e deixara nos arquivos três singles por editar, e Just Another Diamond Day - enquanto ela viajava de carroça com o namorado, um cão e um cavalo, a caminho de uma comuna escocesa fundada por Donovan - nem chegou a aparecer verdadeiramente no radar do público e da crítica. Por isso desistira.

Até que, trinta anos depois, pesquisou o seu nome na Internet e descobriu que era alvo de culto intenso, que as edições originais dos seus discos trocavam de mãos por largas centenas de euros e que músicos que ela não conhecia, como Devendra Banhart, Joanna Newsom ou os Espers, lhe devotavam uma admiração imensa. Vashti, então habitante na mesma Escócia para onde viajara com namorado, cão e cavalo, mãe de três filhos, voltou a pegar na guitarra, foi buscar a cassete de Just Another Diamond Day, registo único da sua vida anterior enquanto música, que mantinha escondida no fundo de uma gaveta, e começou onde parara.

Em 2004, Devendra Banhart convidou-a a participar no seu álbum Rejoicing the Hands. Depois, foram os Animal Collective a juntarem-se a ela para gravar o EP Prospect Hummer. E, por fim, em 2005, Just Another Diamond Day teve finalmente continuidade. Chegava Lookaftering. A mesma voz frágil mas serena sobre os arranjos de Max Richter, a mesma delicadeza no olhar que lançava para todo o tempo que passara desde que sonhara e lutara por uma carreira musical. “Deixei a música com 25 anos e é aí que ainda estou. Talvez chegue ao ponto em que serei eu aos 30”, dizia-nos com humor na antecipação do concerto que, em 2010, a trouxe pela primeira vez a Portugal, ao Lux, em Lisboa.

Neste regresso, traz um terceiro álbum, Heartleap, editado o ano passado e que assegura ser o derradeiro. Porque, explicava-o ao Ípsilon em 2014, o tema-título engloba tudo o que quis dizer em música e porque, dado o ritmo pausado com que compõe, teme que, quando tiver um novo álbum preparado, o formato seja já obsoleto. “Se compuser mais alguma coisa, quero lançá-la de imediato, não quero esperar anos”, afirmou. Novos álbuns, portanto, não haverá. Novas canções, aguardemos para ver. O concerto, esse é certo. Não sabemos se será o último. É certo que será especial. 

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