St Germain emotivo e atmosférico

Para alguém que não dava sinais de vida há quinze anos, não se sai nada mal da operação...

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Para alguém que não dava sinais de vida há quinze anos, não se sai nada mal da operação... DR

Há vinte anos, ainda antes do estouro da electrónica francesa (Motorbass, Air, Daft Punk) que iria acontecer nos anos seguintes, um músico e produtor francês conseguia impor-se graças ao álbum Boulevard (1995), com uma simbiose singular para a época de ritmos house com elementos de jazz e blues, num todo que resultava emotivo e atmosférico. Cinco anos depois viria a editar Tourism, que se tornou banda-sonora de hotéis e bares chiques.

Agora, quinze anos depois, eis que Ludovic Navarre regressa com Real Blues, um álbum que repete a estratégia sincrética dos dois álbuns inaugurais, só que desta feita temos ritmos house em velocidade de cruzeiro, ambientes jazzísticos e elementos africanizados do Mali, com a kora, o instrumento local, a surgir em alguns temas. Ao que parece a inspiração adveio depois de tomar contacto com a música de Ali Farka Touré, que o conduziria até à comunidade maliana de Paris, onde encontraria o guitarrista Guimba Kouyate, com o qual acabou por colaborar.

Não surpreende, por isso, que a maior parte dos temas estejam organizados à volta de acordes de guitarra ou de apontamentos vocais com alusões aos blues, como em How dare you. Tudo isto poderia resultar ilustrativo, mas a riqueza de detalhes, a composição das atmosferas, a forma como ecos e efeitos se vão desfiando pacientemente, acabam por produzir uma tapeçaria instrumental de belo efeito. O que é estimulante é que nada do que daqui se ouve soa demasiado elaborado, fluindo com tanto de gravidade como de leveza. É verdade que esse difícil equilíbrio não é uma constante, mas para alguém que não dava sinais de vida há quinze anos, e que regressa com uma proposta renovada, não se sai nada mal da operação.

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