Maturidade dos 40 anos

Os dicionários definem maturidade como o estado ou condição de pleno desenvolvimento, condição de plenitude em arte e saber, termo último do processo de crescimento emocional. Os sinónimos da palavra maturidade incluem sensatez, discernimento, equilíbrio, ponderação, prudência, perfeição, tino, juízo, entre outros. Na linguagem corrente, costuma dizer-se que a maturidade se atinge pelos 40 anos.

Decorridos 41 anos após o 25 de Abril, verifico com tristeza que a nossa democracia não atingiu a maturidade. Depois de eleições que expressaram, de forma clara, a vontade do povo português (governam os mesmos, com a condição de estarem muito atentos aos outros, porque não têm maioria absoluta), as semanas que se seguiram demonstraram falta de discernimento e de contenção emocional, que deveriam ser a norma em agentes políticos candidatos a governar.

No momento em que escrevo (18 de Outubro), sucedem-se declarações imaturas e apelos a tomadas de posição sem sentido, a contribuir para a criação de um clima nada propício a uma tomada de posição racional.

Numa democracia com maturidade, de que são exemplos vários países, a situação decorrente das eleições, embora complexa, encontraria uma resposta ponderada e sem sobressaltos de maior, tendo em conta os respectivos preceitos constitucionais. Como fazer, então?

Embora sem actividade política em partidos, fiz pelo Facebook um apelo ao voto no PS, pela razão de considerar esse partido como o mais capaz de criar no Parlamento a solução de governo que tivesse em conta a profunda alteração do xadrez parlamentar que previa ir acontecer. Contados os votos, a minha tomada de posição justificou-se, mas o que importa é o que fazer agora.

Numa democracia com maturidade, não haveria dúvidas. O partido mais votado, o PSD, formaria governo e apresentaria o seu programa na Assembleia da República. Os outros partidos tomariam posição, a favor, contra ou abstenção, em votações que poderiam incluir a decisão sobre moções de rejeição. O governo liderado pelo PSD aceitaria com maturidade e contenção emocional os diversos votos, de que resultaria a viabilidade do seu governo ou a sua rejeição. Neste último caso, o segundo partido mais votado, o PS, apresentaria a sua proposta de governo, seguindo-se o mesmo processo.

Não vejo com dramatismo qualquer destas soluções, compreensíveis numa democracia parlamentar adulta e com maturidade, como deveria ser apanágio para quem tem 41 anos. Infelizmente, ouço e vejo declarações insensatas, a mais grave e incompreensível é a de que o PS estaria a tentar um golpe constitucional: mas estes senhores não conhecem as regras constitucionais?

O PSD/CDS têm toda a legitimidade para governar, foram escolhidos pelo povo para essa função. Cabe a esses partidos proporem uma solução viável no quadro parlamentar existente, com a certeza prévia de que terão de surgir alternativas, se não forem capazes de cumprir esse propósito. Quanto ao PS, é para mim claro que deve estudar todas as hipóteses para a constituição de um governo por si liderado, mantendo conversações à sua esquerda e à sua direita. Voltou às conversas o debate político (o que é bom), mas só a falta de maturidade e a ausência habitual de diálogo político permitem dar livre curso à irracionalidade que tem caracterizado a discussão entre os agentes partidários, nesta quinzena depois das eleições, a terminar justamente no dia em que escrevo esta crónica.

Sugerir correcção
Ler 5 comentários