Trudeau, o sexy novo líder mundial

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A vitória de Justin Trudeau nas eleições canadianas teve uma repercussão mundial. Não é habitual que as eleições canadianas excitem o estrangeiro e dominem as manchetes da imprensa ou as aberturas das televisões de quase todo o mundo, espanta-se o Globe and Mail, de Toronto. O jornal The Australian constata a chegada da vaga ao Pacífico: “Os votos estão contados e o Canadá emerge destas eleições com um sexy [super hot] novo líder.”

É um duplo fenómeno. A atenção concentra-se tanto sobre a emergência do liberal Trudeau como sobre a queda do seu antecessor, o conservador Stephen Harper, que, em dez anos de governação, provocou vagas na cena internacional também pouco habituais nos governos de Otava.

A saturação em relação a Harper, olhado como um “Bush canadiano”, combinou-se com o surto de “trudeaumania” que varreu o país. Chamam a Justin o “Obama canadiano”. Jovem (43 anos) e atlético, praticante de boxe, revelou-se uma “bomba de carisma” que galvanizou todas as gerações, duplicou os votos do decadente Partido Liberal, venceu no Canadá “britânico” e impôs-se no “francês” Quebeque. Contra todas as profecias e sondagens, arrancou uma maioria absoluta. O favorito era o social-democrata Thomas Mulcair, mas foi Trudeau quem soube capitalizar o desejo de mudança.

Começou a carreira política em 2007 e em 2013 conquistou a liderança do Partido Liberal. Exactamente 45 meses e uma semana após o seu pai, Pierre Elliott Trudeau, ter sido eleito para o cargo. Justin é um herdeiro de uma saga e de um nome. A primeira vaga de “trudeaumania”, que esta agora copia, foi a desencadeada por Pierre, um dos “pais do Canadá moderno” e vedeta da cena internacional nos anos 1960-80 (ver páginas 18/19).

Justin não fica pela herança e sabe que a política é também espectáculo. Em 2012, desafiou um senador conservador para um combate de boxe transmitido pela televisão. Serviu para impor a sua nova imagem — “um líder carismático capaz de vencer pela força de vontade”.

Vêm agora as complicações. A política externa volta à ribalta no Canadá. Trudeau já informou Obama que deixará de participar nas operações de bombardeamento contra o Estado Islâmico para concentrar os esforços no apoio aos refugiados sírios. Harper tinha feito o contrário. O novo Governo liberal tem a simpatia dos ambientalistas, comprometendo-se a fazer avançar as negociações para a Cimeira de Paris sobre a mudança climática, em Dezembro. Mas já terá reservas sobre a recente Parceria Comercial da Ásia-Pacífico (TPP), o que inquieta Washington. A tomar nota: Moscovo saudou ruidosamente a derrota de Harper e a vitória de Trudeau.

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Justin Trudeau em campanha em Halifax, a 17 de Setembro. Dois dias, depois ganhava as eleições no Canadá CHRIS WATTIE/REUTERS
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