Futebol com pinturas na cara e penas na cabeça

Nos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas também há futebol. Com apenas 15 anos, Edilson Butorekia marcou o primeiro golo.

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O futebol nos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas arrancou com o jogo entre os povos Bororo Boe e Assurini Cortesia Ministério brasileiro do Desporto
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Cerca de 1800 atletas estão em Palmas, Tocantins, para competir em diversas modalidades Cortesia Ministério brasileiro do Desporto
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Os Kayapó Mebêndôkre celebraram a vitória com um ritual a lembrar a haka neozelandesa Cortesia Ministério brasileiro do Desporto
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As cores e o símbolo nas camisolas são do Barcelona, mas trata-se da equipa do povo Kamayurá Cortesia Ministério brasileiro do Desporto
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As populações indígenas estão em todo o território brasileiro e compreendem quase 900 mil indivíduos Cortesia Ministério brasileiro do Desporto

Ver futebolistas com tatuagens e adereços extravagantes já não é novidade para ninguém. Mas entrar em campo com penas na cabeça só é possível no Brasil, onde está a realizar-se a primeira edição dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas. O futebol, a modalidade mais popular do mundo, não podia faltar. E, apesar de o evento decorrer sob o lema “O importante não é ganhar, e sim celebrar”, a competição começou com goleadas.

Foi com um jogo entre os povos Bororo Boe e Assurini que arrancou o torneio de futebol nos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas (JMPI). O jovem Edilson Butorekia, de apenas 15 anos, precisou de apenas um minuto para marcar o primeiro golo da história destes Jogos, e completaria um hat-trick que ajudou os Bororo Boe a impor-se por 7-2. “Sempre tive o sonho de ser jogador de futebol e não tive, ainda, oportunidade. Batalho todos os dias para ver se entro numa escolinha”, afirmou Edilson, citado no site oficial dos JMPI.

Há 22 equipas masculinas e 18 femininas no torneio de futebol dos JMPI, e a jornada inaugural contou com um duelo “internacional”: o povo Kayapó Mebêndôkre defrontou e venceu uma equipa do Panamá por 6-0, tendo celebrado com um ritual a lembrar a haka neozelandesa.

Um ano depois do Mundial 2014 e um ano antes dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, Palmas, cidade construída há 26 anos para ser capital do estado de Tocantins, foi escolhida para acolher os Jogos precisamente pelo facto de residirem no território cerca de 13 mil indígenas. Participam no evento 24 etnias, num total de aproximadamente 1800 atletas.

Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas relativos ao Censo 2010 mostram que as populações indígenas estão presentes em todo o território brasileiro e compreendem quase 900 mil indivíduos. Há quem diga que a paixão pelo futebol explica a semelhança entre indígenas e não indígenas brasileiros: existe uma selecção indígena brasileira, e um dos maiores da história do futebol brasileiro, Garrincha, tinha raízes indígenas. E são conhecidos relatos de um jogo semelhante ao futebol, chamado “katulaiwa”, praticado pelos indígenas habitantes do Alto Xingu e em que a bola é tocada apenas com os joelhos.

Em 2014, um emblema do estado do Pará fez história ao tornar-se na primeira equipa indígena a disputar o principal escalão dos campeonatos estaduais. O Gavião Kyikatejê Futebol Clube, que na altura foi retratado num documentário, começou por ser totalmente formado por indígenas, mas actualmente é uma equipa mista.

* Planisférico é uma rubrica semanal sobre histórias de futebol e campeonatos periféricos

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