PS mandata Costa para chumbar Governo de Passos e concluir acordo com esquerda

Secretário-geral do PS considera decisão de Cavaco "inaceitável" e afirma-se mais determinado em concluir acordo com PCP, PEV e BE depois da declaração do Presidente.

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António Costa considerou "grave" a decisão de Cavaco Daniel Rocha/Arquivo

A resposta do PS ao Presidente da República já está definida. A comissão política socialista aprovou com apenas duas abstenções uma extensão do mandato antes dado ao seu secretário-geral, mas concentrado-o à esquerda. Por um lado, autorizou António Costa a “prosseguir as negociações e concluir um acordo com o BE, PCP e PEV e aprofundar contactos com o PAN”. Além disso, o órgão interno socialista deliberou também “dar ao grupo parlamentar indicação para apresentar uma moção de rejeição de qualquer programa de governo que se proponha manter no essencial as políticas da anterior legislatura”.

António Costa fez também questão de reagir à “grave decisão” do Presidente já durante a madrugada desta sexta-feira, criticando mesmo o “modo afrontoso” como se referiu ao PS. Costa garantiu que o PS saía “reforçado na sua determinação de concluir as negociações em curso” para poder apresentar “um governo na plenitude das suas funções”.

Por mais de uma vez Costa classificou como “inaceitável” a intervenção do Presidente – por exemplo, por colocar “em causa a imagem internacional de Portugal” nos mercados, ou por “excluir do diálogo político um conjunto de partidos que representam cerca de um milhão de portugueses”.

"É inaceitável que o Presidente da República procure antecipar a apreciação do programa de governo, usurpando uma competência exclusiva da Assembleia da República, para mais pretendendo confundir o que será o programa de governo com os legítimos programas dos próprios partidos que o viabilizem, [nele] participem ou [o] venham a apoiar", disse ainda Costa, acusando o Presidente de ter criado "uma crise política inútil".

"Os socialistas nenhuma lição têm a receber do professor Aníbal Cavaco Silva quanto à construção e à defesa dos fundamentos do nosso regime democrático", acrescentou ainda Costa.

O resultado parecia ter sido, portanto, exactamente o oposto ao pretendido por Cavaco Silva na comunicação que fez ao país. Em vez de potenciar as vozes internas dissonantes que defendiam um PS na oposição a trabalhar para o condicionamento político da coligação, o Presidente colocou mesmo algumas destas do lado de António Costa. Exemplo disso foi a intervenção do ex-ministro Vera Jardim, que admitiu que o discurso do chefe de Estado o forçava a uma mudança de posição.

Ainda assim, houve intervenções dos críticos ao actual rumo seguido pelo secretário-geral socialista, embora assumindo uma atitude menos beligerante. Apesar de ter admitido como muito difícil um acordo com a esquerda em matérias como a economia, finanças ou Europa, o ex-membro da direcção de Seguro Álvaro Beleza considerou ser possível um entendimento noutras áreas como a saúde ou educação.

Eurico Brilhante Dias, recém-eleito deputado e também antigo membro do secretariado, afirmou na reunião ver o PS “num túnel sem saída”, tendo ainda criticado a leitura apresentada por Costa de se estar perante um “momento histórico” no caso de se concretizar um acordo à esquerda. Um possível governo apoiado pela esquerda dava a imagem de que o PS não precisaria de ganhar eleições para ser governo no futuro.

As duas abstenções ao duplo mandato aprovado foram do ex-membro da anterior direcção de Seguro António Galamba e do líder parlamentar do PS-Açores, Berto Messias.

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