O engenheiro líder da JS quer “causas progressistas” na AR

O deputado mais jovem do PS é um estreante no parlamento. Com 29 anos, João Torres é secretário-geral da JS há dois e há 13 que está envolvido com o partido. O emprego jovem é uma prioridade.

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João Torres Fernando Veludo/nFactos

O Partido Socialista (PS) tinha acabado de perder as eleições legislativas de 2002 quando João Torres decidiu aderir à Juventude Socialista (JS). Tinha 15 anos, estudava no ensino secundário, na Maia, e já acompanhava política “com muita paixão”. Em criança, pedia aos avós para o levarem a comícios do PS e, mesmo sem familiares ligados a partidos, sente que teve “uma educação de esquerda”. “Descobri sozinho todo o mundo da JS e do PS”, conta em entrevista. Treze anos depois da primeira decisão política, João foi eleito deputado à Assembleia da República (AR) pelo círculo do Porto.

Poucos dias depois das legislativas de 4 de Outubro, João Torres, 29 anos, escolheu o bar de um hotel na Maia, de onde é natural, para conversar com o P3. Chegou atrasado e o telemóvel não parou de se iluminar com chamadas e mensagens. O impasse que os resultados criaram impediu-o de começar a organizar esta nova fase: procura uma nova casa em Lisboa, para onde se vai mudar permanentemente e acumular o lugar de deputado com o cargo de secretário-geral da JS, que ocupa desde Novembro de 2012. É um dos mais jovens estreantes entre os deputados dos partidos com assento parlamentar. Margarida Balseiro Lopes, 26 anos, foi eleita pelo PSD e Luís Monteiro, 22, pelo Bloco de Esquerda. Este último é o mais novo de todo o hemiciclo.

“A política não é um bicho de sete cabeças. Nem para mim nem para ninguém”, começa por dizer ao recordar os primeiros tempo no partido. Das primeiras reuniões concelhias e do primeiro congresso em que participou só tem boas memórias. O caminho que percorreu, defende, “diz uma coisa sobre ser secretário-geral da JS: qualquer pessoa pode lá chegar”. Coordenou o núcleo de residência e a concelhia da Maia e presidiu à federação distrital do Porto, antes de concorrer à liderança nacional da juventude partidária. Este engenheiro civil formado na Universidade do Porto orgulha-se de não ter abdicado do percurso académico em prol da JS. “Em muitos momentos tive que fazer escolhas, mas o balanço é muito positivo”, garante. “Se há gosto pela participação cívica e política, as juventudes partidárias são espaços extraordinários onde nos podemos realizar.”

Neste momento, João é um político profissional — “mas não um profissional da política”, como se esforça por sublinhar. “O profissional da política é aquele que ganha graus de dependência de tal forma agudos à política que depois acaba por entrar numa espécie de sistema.” Já participou em várias campanhas do PS, com o qual estão relacionadas as suas primeiras memórias políticas. No início da adolescência, percebeu que existia “uma correspondência entre o partido pelo qual tinha desenvolvido uma identificação natural e as convicções que esse mesmo partido defendia”. Mário Soares e António Guterres são duas das influências mais importantes: “De 1995 a 2001, a governação do PS, ainda que com falhas, foi muito positiva para o país”.

A “qualificação da democracia” é urgente

“Totalmente agridoce” é como descreve a noite de 4 de Outubro. Acompanhou as primeiras projecções no Hotel Altis, em Lisboa, onde o partido se costuma reunir em dia de eleições. A expectativa de ser eleito existia — era o sétimo da lista pelo Porto, ainda que recusasse a ideia de ter o lugar garantido — e a confirmação deixou-o satisfeito de uma forma incompleta. É um desafio que encara a nível individual e colectivo, enquanto secretário-geral da JS (que elegeu um outro deputado, Diogo Leão, pelo círculo de Lisboa).

Uma “convergência à esquerda” é um cenário no qual acredita “verdadeiramente”. “Independentemente do resultado das eleições, já estamos a fazer história ao derrubar pequenos muros que existiam entre o PS, o Bloco de Esquerda e o Partido Comunista Português”, defende. João considera “inaceitável” que os socialistas se possam “aliar aos partidos da direita” e apenas admite uma “viabilização de um governo de direita”. “Nunca uma coligação à direita”, faz questão de repetir, algo que o deixaria “muito amargurado, triste e desapontado”. Os portugueses, crê, estão “verdadeiramente saturados das soluções do costume e desta política de direita, que começa na austeridade e termina, em última análise, no próprio perfil dos líderes da coligação”. A “qualificação da democracia” é algo que o preocupa, revela, razão pela qual reitera o apoio à candidatura de António Sampaio da Nóvoa à presidência da república. “Frescura”, “abertura de espírito” e “sentido de humanidade” são características que um Presidente da República deve ter, considera, e que Sampaio da Nóvoa possui.

Ser deputado é algo que “faz sentido” após 13 anos de JS. “Acho que poderei ser a voz de muitos pequenos problemas que, ao longo dos últimos anos, tive oportunidade de identificar e trabalhar”, continua João. Existem “causas mais progressistas”, “bandeiras” da juventude partidária, pelas quais quer continuar a lutar. “Nós somos favoráveis à eutanásia, à liberalização do consumo de drogas leves e à regulamentação da prostituição”, afirma. Nesta próxima legislatura, João gostaria de ver avanços “em pelo menos uma destas matérias estruturantes para que algumas pessoas deixem de estar à margem da sociedade”. As iniciativas legislativas e os projectos de resolução ainda não estão planificados, mas recusa apelidar estes assuntos como “fracturantes”. “Não me ponho no papel de dizer o que é mais importante, esse é um discurso da direita.”

As primeiras memórias políticas de João estão associadas ao PS

Todavia, reconhece, a prioridade é o emprego. “Criar mais e melhores postos de trabalho e estancar a emigração jovem”, frisa. “Em dois anos consecutivos, 2013 e 2014, o país perdeu, em cada ano, 1% da população.” O jovem deputado também viu amigos emigrarem, pessoas que “saem amarguradas com o país e sem expectativas de voltar”. Considera-se um jovem da sua geração: depois do curso procurou emprego, conseguiu um estágio profissional numa empresa de construção civil e continuou a viver em casa dos pais, na Maia. “A política serve para mudar a vida dos outros pela positiva mas a verdade é que também mudou a minha vida.”

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