Cartas à Directora

A isenção da comunicação social

Até aqui, todos os partidos ou movimentos que se situassem à esquerda do PS eram considerados como sendo apenas de protesto, não tinham a coragem de avançar para um patamar que os viesse a responsabilizar pela participação governativa. Eram tidos como a parte "folclórica" do regime (ocultava-se convenientemente que muitos dos seus elementos tinham estado na base da instauração da democracia e tinham sofrido torturas e não raras vezes a morte nos calabouços do fascismo...). Mas, enfim, era-lhes dado o tratamento de uma certa indulgência, e o estarem representados na AR justificava as virtualidades da democracia e dava um ar de pluralismo que não desagradava aos realmente detentores do poder absoluto, para assim, com maior facilidade, fazerem passar as suas políticas de rapina.

Mas eis que os ditos "radicais" de esquerda alcançam um resultado eleitoral que lhes permite ser parte activa numa solução de Governo. Cai o Carmo e a Trindade!

Os mesmos que argumentavam com a suposta ausência de propostas alternativas provindas desse sector (o tal que era únicamente protesto) indignam-se só com a ideia de BE e PCP virem a poder estar na base de um eventual futuro executivo. Que isso é contra a Europa, o euro, a NATO, que os sagrados mercados se agitam quando a questão é levantada, etc., etc., etc.

O mais grave disto é que estas teorias antidemocráticas, de arrogância dos poderes instituídos e profundamente antidemocráticas, fazem eco em praticamente toda a comunicação social, com os canais televisivos (onde enxameiam os comentadores de direita, as mais das vezes sem contraditório), as rádios e os jornais (estes até tristemente em editoriais, que não em artigos de opinião...) a empurrarem a direcção do PS para os braços da coligação.

E dizia aqui há semanas, numa entrevista num órgão da concorrência, a inefável Manuela Moura Guedes, que a comunicação social estava invariavelmente nas mãos da esquerda. Se não fosse dramático, até dava vontade de rir.

António Augusto Costa Arezes Martins, Maia

 

Uma frente popular?

Apesar da vitória eleitoral da coligação conservadora (com maioria relativa), assistimos a movimentações tendentes à formação de um Governo contranatura, do tipo frente popular.  

O Bloco de Esquerda é um dos proponentes com um programa em tudo semelhante ao do Partido Socialista... Unido da Venezuela, de Hugo Chavez: preconiza o chamado "Estado Pai Natal", prometendo tudo a todos, desde a solução para o endividamento individual e empresarial, passando pela nacionalização da banca e indo até à legalização da cannabis!

Outro dos frentistas é o PCP (com a capa da CDU), que continua a viver no mundo cretácico leninista da extinta URSS e não percebeu a razão do colapso do universo comunista, ocorrido na Europa em 1989.  

António Costa comporta-se como se tivesse ganho as eleições de uma imaginária coligação de esquerda que jamais foi a votos. Apoiado pela facção jacobina do partido – amarrada para sempre ao Maio de 68 em Paris –, ignorou o aviso solene do presidente do eurogrupo, o socialista holandês Jeroen Dijsselbloen, acerca das consequências de qualquer mudança significativa do rumo na política económica.

O país está saturado de quase 40 anos de experimentalismo político e social, com os portugueses a servirem de cobaias de laboratório; desta vez, temos uma experiência frentista, que deixa o PS refém de duas formações políticas ambas antieuro, anti-União Europeia e anti-Aliança Atlântica! A nossa sociedade civil, a União Europeia e os mercados da dívida não deixarão de responder ao frentismo dos derrotados.

Rui M. Alves, Lisboa

 

 

 

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