Revolução digital deve potenciar a criação de emprego e combater a exclusão, diz Cavaco

Presidente da República defende que as novas tecnologias devem assegurar a compatibilização entre a modernização do sistema produtivo, a estabilização do sistema financeiro e o reforço da coesão social.

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Cavaco Silva afirmou estar "descontraído" com o actual cenário político em Portugal ENRIC VIVES RUBIO

RoCKIn, um pequeno robô branco, de olhos LED azuis e que tem a forma de um enorme gato sentado, apresentou-se e cumprimentou o “mister presidente” enquanto Cavaco Silva o olhava sorridente. Ironicamente, o Presidente da República acabara de alertar, há 15 minutos, para o impacto negativo imediato da revolução digital no emprego e para a necessidade de se saber transformar essa mudança tecnológica em benefícios visíveis para toda a sociedade.

Esta pequena criatura, o RoCKIn, é resultado de um projecto europeu de competição tecnológica para construir robôs domésticos e industriais em que participa o Instituto Superior Técnico.

No Centro de Congressos de Lisboa, onde até quinta-feira se realiza a conferência internacional ICT 2015 – Innovate, Connect, Transform, organizada pela Comissão Europeia e pela FCT, que junta em Lisboa sete mil participantes de todo o mundo, o Chefe de Estado português defendeu ser necessário, no olho do furacão da actual revolução tecnológica digital que o mundo atravessa, criar um equilíbrio entre “a modernização do sistema produtivo, a estabilização do sistema financeiro e o reforço da coesão social”.

“A eficácia deste equilíbrio determinará as condições de crescimento sustentável da Europa nas próximas décadas, invertendo o ciclo de crises sucessivas e de estagnação económica prolongada”, prevê Cavaco Silva.

O Presidente realçou a prioridade da agenda europeia à “regulação da Internet, à transparência e ao equilíbrio na regulação das telecomunicações, do audiovisual, dos media e dos novos modelos de negócio digitais”, a que acrescentou as questões da “cibersegurança e de salvaguarda da privacidade”. E defendeu ser “fundamental” atenuar as diferenças no ritmo de desenvolvimento digital dos diversos Estados-membros “criando políticas que promovam uma rápida convergência” nesta área.

Antes, o Presidente admitia existirem “dificuldades” nas sociedades para lidar com a nova revolução tecnológica e ser, por isso, precisa “inovação institucional” para se conseguir beneficiar do “potencial de criação de riqueza que as TIC (tecnologias de informação e comunicação) abrem à sociedade e à economia”.

“Não é de excluir que, num primeiro momento, a revolução tecnológica em curso possa suscitar tensões antes de produzir benefícios visíveis para toda a sociedade”, avisa Cavaco Silva, lembrando, por exemplo, as “dificuldades de reajustamento e de assimilação da mão-de-obra pelos novos sectores”, com efeitos no emprego.

Estes são, nas palavras do Presidente, tempos de “incerteza” e de “grandes desafios”, tanto para os que perderam o emprego e enfrentam dificuldades para regressão ao mercado de trabalho como para as empresas cujos resultados diminuem, como ainda para os poderes públicos que vêem que as “receitas e as medidas do passado já não produzem os efeitos desejados”.

O esforço de investimento, aprendizagem e adaptação a esta nova revolução digital é um processo que levará “várias gerações a consolidar”. E, enquanto isso, avisa: “Não podemos continuar a ignorar os sinais de intensa pressão social que a mudança está a induzir, especialmente perante desigualdades que persistem no acesso ao emprego e na distribuição de riqueza.”

 “São necessárias políticas que interpretem o novo modelo tecnológico e económico nesta fase crítica, sabendo-se que a mudança nas instituições é muito mais lenta e complexa do que as mudanças verificadas na ciência, na técnica ou na própria economia”, advertiu Cavaco Silva, acrescentando ser “fundamental criar condições para que os poderes de regulação sejam eficazes”.

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