A relevância da literacia desportiva em 2015

A literacia desportiva da população é um conceito de capital humano que leva décadas a criar.

As políticas de austeridade syrizaram o sul da Europa e, em Portugal, António Costa impediu o ainda maior crescimento da fractura gerada à esquerda do PS. A maioria eleitoral primeiro à direita e subsequentemente à esquerda, quatro anos passados, foi criada por políticos ferozes que se recusam a admitir a consequência dos seus actos enquanto líderes e responsáveis máximos dos destinos do país. Com estas afirmações não estou a dizer que votei ou deixei de votar onde quer que seja. Os erros praticados com excesso mexem com os portugueses e exigem a democracia, a ponderação, o despojamento e a coragem política que têm faltado. Estas características são importantes no desporto que é um local de emoções fortes e exigência de literacia europeia.

Independentemente da maioria de esquerda ou de direita o desporto necessita de, digamos, 1% do Orçamento do Estado por ano, o mesmo que pede a cultura, para potenciar os benefícios do desporto para a população. É um número redondo, como outro qualquer, que necessita de ser aprofundado e que deve permitir ao desporto português competir em igualdade com os países europeus. Há que discutir e relançar o investimento do desporto que se contraria há 20 anos. Perguntam os cépticos e de onde virá o tal 1% do OE? Fazendo contas poder-se-á concluir que se houver anualmente mais 50% da população a praticar actividades físicas desportivas, o número de consumidores passará dos atuais 5 milhões para os 7,5 milhões de consumidores que, para além, do consumo em desporto terão melhor saúde, ganharão anos de vida, gastarão menos em remédios, deslocações aos médicos e menos despesas em farmácia e hospitais, os clubes de bairro promoverão a inclusão social, os cidadãos serão mais produtivos gerando um maior produto económico, perderão menos dias de trabalho, serão mais activos e menos gordos e obesos, serão criados mais postos de trabalho e novas organizações surgirão para responder a esse diferencial positivo de 2,5 milhões de consumidores. Mas é preciso estudar. Politicamente não se estuda porque o imediato está todo estudado, há que deixar trabalhar, e não se investe porque seria um desperdício e sabe-se que há outros sectores muito mais produtivos...

O actual momento político suscita o conceito agregador da literacia desportiva sob diferentes formas: a científica, a popular e a institucional.

Há federações desportivas nacionais com processos de falência para o qual, por exemplo, serão bem-vindas novas soluções económicas. O desporto necessita de inovação científica nas suas políticas e também há a necessidade de aplicar instrumentos económicos simples que permitam um upgrade das opções dos líderes desportivos e que os ajudariam a caminhar em direcção a instrumentos de maior conteúdo científico. A distância que separa a literacia científica da literacia da liderança das federações e dos clubes é um primeiro desafio de literacia do desporto português.

Vejamos outro exemplo de literacia relacionado com uma criança de 9/10 anos que andava de skate sobre o muro com a largura de 70 centímetros sobranceiro às rochas, a uma altura de 6 a 7 metros, no passeio marítimo de Oeiras frente ao INATEL. Estava rodeada de 10 a 15 caminhantes e corredores e nenhum olhava pela criança, nem a mãe a 10 metros mais à frente a passear o cão. Há pessoas que têm acidentes e algumas morrem a fazer desporto de aventura como em caminhadas pelo campo e pela serra. Também se sabe que se fazem corridas radicais de BTT do Castelo de S. Jorge à Praça da Figueira em Lisboa durante 120 segundos e nenhum concorrente se aleija apesar do imenso risco incorrido. A literacia desportiva da população é um conceito de capital humano que leva décadas a criar e responde às necessidades vitais de exercícios físicos e adrenalina dos jovens. Pouco a pouco, com segurança, a acumulação de capital humano desportivo ajuda-os a crescer e a assumir desafios cada vez mais complexos e a compreender quando se tornam adultos, o cuidado a pôr nas suas actividades físicas e dos seus filhos.

Um terceiro nível de literacia desportiva está na governação das instituições desportivas. Por exemplo, a existência de instituições cujas funções se sobrepõem ou estão mal definidas é uma perda de recursos públicos e impede a racionalidade das políticas. Há 3 instituições chamadas Confederação do Desporto de Portugal, Comité Olímpico de Portugal e Comité Paralímpico de Portugal que não são claras na eficácia desportiva e social e na eficiência económica da sua existência. Até hoje não houve forma de as unificar e criar funções de política desportiva mais complexas do que as atuais cumpridas com financiamento público. A orgânica privada e pública do desporto é outro exemplo de literacia desportiva pública.

As novas políticas desportivas deverão ir ao encontro dos desafios concretos da literacia desportiva relacionados com as praxes, a ocupação dos jovens, a obesidade, os migrantes, os empregados e os desempregados, os idosos, as mulheres e também a criação de campeões pela universidade e pelas forças armadas que são vitais para os portugueses. A população portuguesa é a mais educada de sempre e continua a necessitar de instrumentos desportivos que a sociedade e os governos se alheiam. Quer a maioria seja à esquerda ou à direita há a exigência de bons orçamentos e programas, de reformas orgânicas eficazes, da nomeação de líderes com qualidades superiores sendo a literacia desportiva um conceito agregador para o país contrariar a política tradicional.

Economista

Sugerir correcção
Comentar