Portugal próximo de outras Taças no formato mas distante nas receitas
As alterações introduzidas ao modelo da prova-rainha do futebol português acautelam, numa primeira fase, o interesse desportivo dos clubes mais modestos, como acontece em Espanha, Alemanha e França.
O Vianense, o Vilafranquense, o Varzim, mas também o Coruchense, o Académico de Viseu ou o Lusitânia Lourosa. Todos eles, à imagem dos restantes adversários de clubes da I Liga, vão disputar a 3.ª eliminatória da Taça de Portugal, já a partir de amanhã, na qualidade de anfitriões. Não é uma coincidência, mas antes uma imposição do novo regulamento da competição organizada pela Federação Portuguesa de Futebol (FPF), que visa acautelar essencialmente o interesse dos clubes mais modestos. Uma lógica que vai ao encontro do que já acontece em Espanha, Alemanha ou França.
Na edição 2015-16 da prova-rainha do futebol português há mais equipas (são agora 160 contra as 135 da época passada) e uma preocupação em equilibrar a balança numa primeira fase da competição. É nesse sentido que o regulamento estabelece que, na 2.ª eliminatória, os clubes da II Liga jogam sempre como visitantes e que, na 3.ª ronda, a primeira em que participam as equipas da I Liga, sejam os adversários a desempenhar o papel de anfitrião.
Nada de especialmente novo, se tivermos em conta que em Espanha os clubes mais pequenos jogam a primeira mão sempre em casa, nos 16 avos-de-final e nos oitavos; que na Alemanha os elos mais fracos competem no seu estádio em todas as rondas, com excepção da final (desde que, a dada altura, sejam emblemas da terceira divisão ou amadores); ou que em França uma diferença de dois escalões jogue sempre a favor da formação mais modesta.
A intenção é aumentar ligeiramente as hipóteses de êxito do clube com menos potencial, mas também garantir uma casa cheia e alguma visibilidade extra à região. Porém, nem tudo se consegue, como comprovam os casos recentes do Vianense e do Vilafranquense, adversários de Benfica e Sporting nesta 3.ª eliminatória, respectivamente. Nenhum dos estádios reunia as condições mínimas para a realização da partida (em termos de segurança, de lotação e de espaço para a transmissão televisiva), o que obrigou o clube de Viana do Castelo a requisitar o Estádio Cidade de Barcelos e o emblema de Vila Franca de Xira a viajar até ao Estádio António Coimbra da Mota, no Estoril.
“O cenário ideal seria jogar em casa. Fizemos tudo para que fosse no nosso estádio, mas não há condições”, reconhece ao PÚBLICO Rodolfo Frutuoso, presidente do Vilafranquense, que aplaude a medida que impõe a condição de visitante ao clube mais poderoso. Do ponto de vista financeiro, contudo, a perspectiva é outra: “Honestamente, financeiramente, seria melhor em Alvalade. No mínimo, haveria sempre 15 a 20 mil adeptos do Sporting, mais os nossos. Para o Vilafranquense, seria histórico que fosse em casa, mas temos de chegar à conclusão de que seria melhor jogar em Alvalade”.
Os actuais regulamentos, porém, impedem que assim seja, descartando um cenário que já foi real em anos anteriores. Nesse sentido, reduzem o potencial das receitas a atingir, já que a distribuição é feita, segundo o artigo 84.º, “em partes iguais” para os dois clubes, no “valor correspondente a 75% das receitas líquidas dos jogos da Taça” — os restantes 25% revertem para a FPF. Rodolfo Frutuoso lembra, porém, que o total embolsado sofre outros cortes: “Da receita líquida temos de tirar 26% (10% para a Associação de Futebol de Lisboa, 2% para o Fundo de Fomento do Futebol Jovem, 9% para o Fundo de Arbitragem, mais 5% para o Estoril, dono do estádio), antes de fazer a divisão de 37,5% para cada clube”, explica, salvaguardando, ainda assim, que “é sempre uma receita inesperada e positiva”.
No capítulo dos rendimentos que proporciona, a Taça de Portugal perde em toda a linha — e de forma flagrante — para as competições congéneres das grandes potências futebolísticas da Europa. Basta ver, a título de exemplo, que o prémio monetário atribuído ao vencedor (300 mil euros, sem contar com proveitos de TV e bilheteira) é substancialmente inferior ao do finalista vencido de qualquer uma das cinco grandes Taças.