A morte saiu à rua em Kiev e Paulo Nunes dos Santos fotografou

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"Durante a minha carreira, já vi várias pessoas a morrer e serem mortas à minha frente", disse em entrevista ao P3 o fotojornalista de guerra Paulo Nunes dos Santos. "Estive até, em várias ocasiões, já bem perto de ser eu a vítima". Em Kiev, capital da Ucrânia, onde acompanhou na primeira fila os protestos que decorreram entre 2013 e 2014, o ambiente que se vivia era relativamente seguro, pelo menos em comparação com outras situações vividas pelo fotojornalista, "habituado a trabalhar em cenários muito mais hostis". "Estavam muito bem organizados", assegurou. "Desde a distribuição de comida e roupa, ao suporte médico e técnico e à segurança, os manifestantes conseguiram organizar-se de forma impressionante", de tal modo que Maidan se manteve um local onde famílias iam passear ao final do dia e aos fins de semana. No dia 20 de Fevereiro tudo mudou. Os atiradores dispararam munições reais sobre os manifestantes e Paulo viu, inesperadamente, pessoas a morrer diante de si. "As barricadas ergueram-se em redor da praça enquanto pilhas de pneus ardiam ininterruptamente. As altas colunas de fogo e de fumo preenchiam o céu nocturno num cenário apocalíptico, cor-de-laranja e dramático. Um espectáculo visual complementado pelo gelo que se formava a partir da água expelida pelos canhões da polícia. Os protestos decorriam há mais de dois meses, mas, de súbito, o fim parecia iminente. Nas primeiras horas do dia [20 de Fevereiro], dezenas de manifestantes armados com nada mais do que bastões, pedras e escudos de metal, avançaram sobre a polícia, em direcção do parlamento. As forças de segurança retrocederam ao mesmo tempo que "snipers", que estavam nos edifícios circundantes, abriram fogo sobre os manifestantes. No final do dia, 50 pessoas estavam mortas." E, no dia seguinte, o então presidente Yanukovych abandonou o país. Paulo Nunes dos Santos é fotógrafo "freelancer" e pertence ao colectivo fotográfico 4SeePhoto. É representado pela Redux Pictures e colaborador de jornais e publicações internacionais como "The New York Times", "Le Monde", "Sunday Times", "The Guardian", "BBC", "Al Jazeera", "Financial Times". Ana Marques Maia

 

O trabalho de Paulo Nunes dos Santos estará em exposição no Sintra Press Photo, no Museu das Artes de Sintra [MU.SA], de 10 de Outubro a 10 de Dezembro. Este é o último trabalho da 1.ª edição do Sintra Press Photo, evento dedicado ao fotojornalismo de guerra, no âmbito do tema "Conflito", a ser apresentado pelo P3. O evento é promovido pela União das Freguesias de Sintra e a Reflexo — Associação Cultural e Teatral.