Laurie Anderson, Wim Wenders e José Gil no festival de Paulo Branco

“Este festival não é uma passadeira vermelha”, palavras do director do Lisbon & Estoril Film Festival na apresentação do programa. Gil organiza um simpósio sobre loucura e criação artística.

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Laurie Anderson virá mostrar o seu filme-ensaio Heart of a Dog que estreou em Setembro em Veneza AFP/TIZIANA FABI

“Este festival não é uma passadeira vermelha, não é um desfile de personalidades.” Foi esta a mensagem com que Paulo Branco terminou a conferência de imprensa de apresentação do Lisbon & Estoril Film Festival 2015 (LEFFEST), a decorrer de 6 a 15 de Novembro.

Nas palavras do veterano produtor e director do festival desde a sua criação, trata-se de “partilhar com o público as experiências” dos “grandes vultos” que estarão presentes ao longo destes dez dias de certame.

Convidados que, este ano, incluem nomes como a artista multidisciplinar Laurie Anderson, que virá mostrar o seu filme-ensaio Heart of a Dog; os realizadores Wim Wenders, Barbet Schroeder, Hans-Jürgen Syberberg ou Jonathan Demme, num total de 22 nomes já confirmados; os escritores Don de Lillo, Juan Goytisolo (Prémio Cervantes 2014) e John Berger (Prémio Booker 1972); o fotógrafo Kai Wiedenhöfer; e pensadores como Jean Douchet, Bernard Eisenschitz, Arnaud Villani ou Françoise Davoine. Alguns destes nomes são convidados do simpósio Bigger than Life, dirigido pelo filósofo José Gil, e cujo tema explora as relações entre a loucura e a criação artística, sob o signo do filme de Robert Rossen Lilith.

O simpósio terá lugar no CCB (Lisboa) de 13 a 15 de Novembro e, nas palavras de José Gil, “permitirá um avanço no modo como entendemos a obra de arte”, face à raridade dos estudos de aspecto estético sobre a ligação entre a arte e os desvios da normalidade. E o seu acompanhamento por um ciclo de filmes sobre o tema é o exemplo maior do modo como o LEFFEST se expande para lá do cinema, com exposições, espectáculos e leituras.

Outros exemplos são a exposição de fotografias de repérage de Wim Wenders, Scouting in Portugal, acompanhando um programa de filmes que o cineasta alemão rodou, total ou parcialmente, no nosso país (entre os quais O Estado das Coisas e a versão integral, director's cut, de Até ao Fim do Mundo); uma sessão de leitura onde Don de Lillo virá apresentar o volume em que trabalha neste momento; ou de WARonWALL – The Struggle in Syria , exposição fotográfica do alemão Kai Wiedenhöfer sobre o custo humano do conflito na Síria, que estará patente no paredão de Cascais.

No entanto, o cinema continua a ser a âncora central do evento, com uma selecção de luxo que Paulo Branco diz reunir “do melhor que se viu nos festivais internacionais” este ano: “tentamos sobretudo mostrar o que de mais interessante se fez, com algum critério”. Entre os 13 títulos a concurso na selecção principal, encontram-se 11 Minutes do polaco Jerzy Skolimowski, L'Accademia delle Muse do espanhol José Luis Guerín, Kaili Blues do chinês Gan Bi, Room do irlandês Lenny Abrahamson ou Trois souvenirs de ma jeunesse do francês Arnaud Desplechin. Fora de competição, serão exibidos em ante-estreia os novos filmes de Wim Wenders (Tudo Vai Ficar Bem), Nanni Moretti (Mia Madre), Hong Sang-soo (Right Now, Wrong Then, vencedor de Locarno 2015), Barbet Schroeder (Amnesia) ou Andrzej Zulawski (Cosmos).

O cinema português estará presente com Montanha, de João Salaviza (competição oficial) e Jogo de Damas, de Patrícia Sequeira (numa nova secção designada Promessas, dedicada a primeiros filmes). O actor Luís Miguel Cintra será homenageado com um vasto ciclo, onde se cruzarão filmes em que participou como actor com registos filmados do seu trabalho no teatro.

O festival abrirá a 6 de Novembro com a projecção de Anomalisa, a aclamada animação em stop-motion de Charlie Kaufman (argumentista de Queres Ser John Malkovich? e O Despertar da Mente) e Duke Johnson, e Our Brand Is Crisis, sátira política de David Gordon Green com Sandra Bullock no papel principal; o encerramento terá lugar com a ante-estreia de Cavaleiro de Copas, o mais recente filme de Terrence Malick. De destacar igualmente La Loi du marché, de Stéphane Brizé, que valeu o prémio de melhor interpretação em Cannes a Vincent Lindon; 45 Years, de Andrew Haigh, com Charlotte Rampling e Tom Courtenay; e o mais recente fenómeno do cinema brasileiro, Que Horas Ela Volta de Anna Muylaert. Muitos destes filmes encontram-se já adquiridos para distribuição e verão estreia ao longo dos próximos meses.

Entre as retrospectivas, a mais abrangente é dedicada ao cineasta americano Jonathan Demme, realizador de O Silêncio dos Inocentes, Filadélfia e do recente Ricki e os Flash, com um programa que inclui as suas ficções mais importantes e documentários sobre o músico Neil Young ou o ex-presidente Jimmy Carter. Haverá também um ciclo dedicado à geração americana centrada na cidade de Austin, com a exibição de filmes de Richard Linklater (entre as quais o seu célebre primeiro filme Slacker), Jeff Nichols, Andrew Bujalski e, sobretudo, David Gordon Green, alvo de uma integral que vai da sua estreia com George Washington a títulos mais recentes como Joe, com Nicolas Cage, e Manglehorn, com Al Pacino. Numa dimensão mais histórica, haverá uma homenagem ao lendário Hans-Jürgen Syberberg, que virá a Lisboa acompanhar a exibição de Ludwig, Requiem para um Rei Virgem e Karl May, e programas de homenagem ao cineasta russo Andrei Tarkovski e ao seu pai, o poeta Arseni Tarkovski.

O LEFFEST repartir-se-á, como habitualmente, em Lisboa pelas salas de cinema exploradas por Paulo Branco – Monumental e Nimas - , Centro Cultural de Belém e Cinemateca Portuguesa, e pela primeira vez também o Teatro Nacional D. Maria II; e no Estoril pelo Casino Estoril, Centro Cultural de Cascais e Casa das Histórias Paula Rêgo. O calendário final estará disponível a 25 de Outubro.

 

 

 

 

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