De Chaves-Verín ainda não nasceu um casamento mas pode surgir um prémio
A eurocidade é uma das finalistas do concurso da Comissão Europeia que distingue projectos na área do desenvolvimento regional. Terça-feira fica-se a saber se Portugal conquistou pela terceira vez um prémio Regiostar.
Criados em 2008 pela Comissão Europeia, estes prémios têm como objectivo distinguir projectos inspiradores de desenvolvimento regional e boas práticas na aplicação de fundos comunitários. Em 2013, o Parque de Ciência e Tecnologia da Universidade do Porto (Uptec) foi um dos vencedores do galardão – conhecido também como “óscar do desenvolvimento regional”. No ano seguinte Portugal bisou, com o projecto Art on Chairs, criado para promover a incorporação do design na indústria de mobiliário do concelho de Paredes.
Este ano, a candidatura da eurocidade Chaves-Verín foi escolhida como uma das finalistas da categoria CityStar, que distingue a “transformação das cidades para desafios do futuro”. O projecto que une a Galiza ao Norte de Portugal concorre com iniciativas nascidas na Suécia, em França e em Espanha e com um outro projecto transfronteiriço, entre a Suécia e a Noruega.
“Ficámos surpreendidos, agradavelmente surpreendidos”, diz o presidente da Câmara de Chaves sobre a nomeação. “Já é muito bom estar nos cinco finalistas mas quando se chega a esta fase toda a gente espera vencer. É como no futebol, em que quando se está na final quer-se ser campeão”, acrescenta, já de olhos postos no prémio que vai ser entregue na terça-feira pela Comissária Europeia para a Política Regional, Corina Cretu.
No texto em que anuncia a nomeação da eurocidade Chaves-Verín, a Comissão Europeia lembra que as duas localidades têm trabalhado juntas “numa ampla variedade de projectos” e que o seu “sucesso” já “inspirou” o surgimento de outras eurocidades envolvendo Portugal e Espanha. “Este projecto demonstrou que é possível a integração institucional, económica, social, cultural e ambiental de duas cidades além-fronteiras”, conclui-se.
António Cabeleira diz que “sempre houve” uma “aproximação” entre Chaves e Verín, cidades com respectivamente 42 mil e 15 mil habitantes e que têm entre si o rio Tâmega. “Crescemos assim, a conviver bem”, constata, defendendo que a constituição da eurocidade e a sua formalização como Agrupamento Europeu de Cooperação Territorial vieram tornar “mais forte” a “relação que já existia há muitos anos”.
“A convivência é total. É como se não houvesse uma fronteira”, avalia por sua vez o alcaide de Verín, que apesar de ter assumido há apenas alguns meses o cargo parece estar já convencido das potencialidades deste projecto. “Este é considerado um dos melhores modelos de eurocidade”, frisa ao PÚBLICO Gerardo Fidalgo, que entende, ainda assim, que os cidadãos que lá vivem “não têm ainda a informação completa do que pode ser isto”.
Já o presidente da Câmara de Chaves acredita que, através deste projecto, acabou por se conseguir nos últimos anos “dar visibilidade” a esta região. Além de haver uma agenda cultural comum e de se dinamizarem várias iniciativas partilhadas dirigidas a crianças e jovens, “toda a promoção turística é feita em conjunto”, com um grande objectivo em mente: vender Chaves-Verín como “a eurocidade da água”. “Temos aqui uma quantidade e uma diversidade de águas minerais extraordinárias”, justifica o autarca do PSD.
Para o futuro próximo, um dos projectos em cima da mesa visa “transformar num parque natural” a área junto ao rio Tâmega, que António Cabeleira ambiciona que seja visto não como algo que “separa” as duas cidades, mas sim como algo que as “une”. Também em estudo estão a criação de uma linha pendular de transporte público entre os dois territórios (iniciativa para a qual existe a ambição de conquistar fundos comunitários) e a instalação no antigo posto de fronteira de forças de segurança de Portugal e de Espanha.
Mas “a grande meta, que está desde o princípio escrita”, é “que os dois territórios sejam considerados uma zona franca social”. Ou seja, explica o presidente da Câmara de Chaves, que os habitantes de um lado e de outro possam utilizar os serviços públicos “que entendam por melhores”, independentemente do lado da fronteira em que se localizem.
Quando esse objectivo for concretizado, diz António Cabeleira, aí sim, ter-se-á conseguido criar “um verdadeiro espaço de cidadania europeia”. O autarca admite que há ainda um longo caminho a percorrer para que a muito ambicionada zona franca social seja uma realidade: “ainda estamos longe”, reconhece, frisando no entanto que “estão a ser dados passos” para lá chegar.
O que também ainda não aconteceu (pelo menos tanto quanto o presidente da câmara sabe), mas que pode bem vir a acontecer um dia destes, é um casamento entre alguém do “bairro sul” e alguém do “bairro norte”. As designações são de António Cabeleira, que assim se refere a Chaves e a Verín e que promete que se a boda acontecer tanto ele como o autarca do território vizinho estão disponíveis para ajudar a fazer a festa.