Invasão Marciana em marcha!

Costa, o “grande perdedor” das eleições, reverteu os motores da derrota astral contra o planeta Marketing Brasileiro da PàF e o próprio PS.

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Humanidade que ainda celebra o 5 de Outubro: isto passou-se no terceiro planeta do sistema solar, ano 2015.

As mãos de um Presidente em fim de mandato tremiam como pastéis. Segurava o comando do televisor nas mãos e, quando acabava a reportagem, voltava atrás e via-a de novo: um senhor esquisito, que ainda há dias sorria e encolhia os ombros, bem-disposto, ao assumir uma dura derrota, continuava a dizer coisas incompreensíveis: “Não acho saudável que as principais forças políticas, salvo situações de emergência… eu até já disse, salvo uma invasão de marcianos… partilhem responsabilidades governativas, porque isso diminui a possibilidade de geração de alternativas e acho que não favorece a democracia.” Cavaco Silva pediu a Maria que o ajudasse a identificar o homem que falava na rua escura.

— Quem é aquele senhor que está a sorrir e a encolher os ombros?
— É o António Costa, o líder do Partido Socialista.
— Ah.
— O que perdeu as eleições.
— Ah. Mas eu conheço-o?
— Foi candidato a primeiro-ministro.
— Ah. Mas espera lá... O novo primeiro-ministro conheço-o eu bem. É o Passos Coelho.
— Até já te reuniste com ele, sim.
— Pois, esse rapaz eu conheço bem. E recebo-o. Não recebo qualquer um. É o meu primeiro-ministro. Este diz que é contra o conceito do “arco da governação”. Como é que se chama exactamente o senhor?
— Olha, Aníbal, já são muitos anos. Os teus assessores que te expliquem que eu vou dormir!

Depois de um briefing com os assessores, Cavaco teve uma vertigem chamada realidade e chamou Costa, de emergência, ao Palácio de Belém. Costa encolheu os ombros, sorriu, acabou a sandes de ovo e foi. Desde a noite das eleições que era só o que fazia: encolhia os ombros, sorria, acabava a sandes de ovo e lá ia reunir-se com um tipo qualquer que precisava muito de falar com ele.

Cavaco Silva recebeu-no no gabinete de crise. Trazia vestido o uniforme de Comandante Supremo das Forças Armadas e um laser-phaser multifásico nas mãos. Para mostrar que a arma funcionava, queimou as rosas da jarra com um raio laranja. Costa encolheu os ombros e sorriu, ou melhor, sorriu e encolheu os ombros.

— Isso é uma maneira de tratar as rosas muito atípica.
— Temos de estar preparados!
— Então diga lá. Já ando um pouco cansado de encontros e ainda me falta o Bloco, segunda-feira, se não adiarem outra vez. Um quer uma coisa, o outro quer outra coisa, e uma pessoa começa a pensar, olha-me este... ainda agora andava a dizer cobras e lagartos de mim e agora quer batatinhas e eu já sou um tipo do caraças e...
— Já contactei a União Europeia e a NATO e a ONU e, mais importante ainda neste planeta Terra, como o senhor bem sabe, o Eurogrupo! Temos de aguentar a primeira vaga do assalto!
— Assalto? Aos 600 milhões das pensões, imagino.
— O assalto da invasão marciana! Temos de fazer já um Bloco Central da PàF com o PS ou a humanidade desaparece como... como... como o BES e a minha maioria absoluta!

Costa sorriu, encolhendo os ombros.

— Estou à espera que me explique o que acaba de dizer e espero que isso contribua para a construção de uma boa solução para a prática política.
— Nunca percebo o que você diz.
— Olhe, é recíproco.
— Senhor, hum, opositor, estou a falar da invasão de Marte, dos marcianos. Do Planeta Vermelho. Dos comunistas. Não podemos brincar com coisas sérias. Temos de fazer um Bloco Central para proteger o mundo.
— Ponho algumas condições que, enfim, veja lá se pode corresponder... A esquerda à esquerda do PS descobriu que eu sou de esquerda, coisa que nunca lhes tinha passado pela cabeça. De repente somos todos amigos e eles já nem se odeiam uns aos outros nem aos socialistas. Resultado: chamam-me para segurar nas mãos um Arco da Governação Popular. E como estão todos piores do que estragados consigo... Ei, o que é que está a tirar do bolso?
— Alho, sal e um frasco de água benta. O crucifixo da campanha do Pedro não chega. Dispare lá.
— Viragem da política de austeridade.
— Ai.
— Aumento do salário mínimo. Reposição das pensões e reformas.
— Ai, ai.
— Copos vaginais.
— Ai!!!
— Espere, isto é o PAN dos animais. Mas pronto, por que não? Há algum problema em oferecer copos vaginais para salvar o planeta da poluição da invasão dos marcianos?! Isto não é para rir, percebeu, exijo copos vaginais!
— Ok, ok, já acabou?
— Ahhh... Combate à precariedade laboral e a reversão da privatização da TAP e outras. Aposta no Serviço Nacional de Saúde e na Educação Pública.
— Meu Deus, a galáxia treme.
— Alteração à alteração da lei do aborto e... o que é que eu tenho aqui mesmo debaixo da língua? Ah... adopção por casais gay.
— Começo a pensar que mais vale ser queimado vivo pelos marcianos. Vade retro!

Costa encolheu os ombros sorrindo.

— Não desmaie, também pode ser que o PS, no fim, faça tudo ao contrário. É que eu sou um marciano bastante atípico, sabe?

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