Entre nada e coisa nenhuma

 “Muito pouco”, “nadinha”, regista o dicionário sobre a palavra que jamais se dissociará de António Costa, “poucochinho”. Quando resolveu disputar a liderança do PS, em 2014, e depois de o partido ter vencido, com António José Seguro, dois actos eleitorais (autárquicas e europeias), foi este o discurso: “Eu sei que muitas vezes se diz que por um se ganha e por um se perde. É verdade, no futebol é assim. Na política não é assim. É que a diferença faz muita diferença, na política. É que quem ganha por poucochinho é capaz de poucochinho. E o que nós temos de fazer não é poucochinho. O que nós temos de fazer é uma grande mudança.” Pois.

O dicionário também fala em “pouquinho” e “poucachinho”. Graça Franco, na Rádio Renascença, escolheu “apoucar-lhe” ainda mais o sentido, chamando “poucochíssimo” ao “estrondoso falhanço” do PS: “Perante a perda de mais de 752 mil votos pela coligação, acabou a noite com mais 172 mil do que o pior resultado de sempre conseguido por Sócrates, em plena bancarrota (…). É obra. Não chega a ser poucochinho, é simplesmente poucochíssimo!”

Ainda assim, o secretário-geral declarou na noite das eleições legislativas: “Manifestamente, não me vou demitir.” Pedro Santos Guerreiro resumiu bem, no Expresso (“O Lobo Mau e o Poucochinho Vermelho”), as palavras do ainda líder: “O discurso de derrota de António Costa, sendo surreal, foi suficientemente ambíguo para dar para tudo. Mesmo tudo. Incluindo o nada.” Coisa nenhuma, manifestamente.

Sugerir correcção
Ler 1 comentários