Edgar Silva, o crítico de Jardim que se dedicou às crianças pedintes do Funchal

O candidato presidencial do PCP foi um dos grandes críticos do anterior presidente do governo madeirense mesmo antes de se filiar no partido.

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Edgar Silva quer maior participação eleitoral Adriano Miranda

O "padre" Edgar Silva, como ainda é conhecido na Madeira, só chegou ao PCP depois de um longo percurso cristão, em que se destacou no trabalho que desenvolveu junto das "crianças das caixinhas", os meninos pedintes do Funchal.

O candidato comunista às eleições presidenciais nasceu em 1962 no Funchal. Aos 18 anos Edgar Silva viajou para Lisboa para frequentar o Seminário de Almada e de Olivais, licenciando-se em Teologia, com mestrado em Teologia Sistemática, na Universidade Católica Portuguesa.

De regresso à Madeira, foi coordenador do Seminário do Funchal, professor de Teologia na delegação regional da Católica entre 1987 e 1992, e responsável pelo MAC - Movimento do Apostolado das Crianças, que ajudou a criar, assim como esteve também na fundação do projecto Escola Aberta.

Foi pelo trabalho que desenvolveu junto das crianças que pediam esmola na baixa da cidade, que Edgar Silva se tornou conhecido da sociedade madeirense. Bastante crítico para com o executivo regional liderado por Alberto João Jardim, assinou em 1992, juntamente com outros sacerdotes, o manifesto Mais democracia, Melhor democracia, que foi tornado público dois meses antes das eleições regionais.

O documento foi mal recebido pela Diocese do Funchal, fazendo com que Edgar Silva fosse ‘chamado’ um ano depois a Lisboa pela Conferência Episcopal Portuguesa, para ocupar o cargo de assistente nacional do Movimento Católico de Estudantes.

Convocado para cumprir serviço militar, o candidato comunista alegou objecção de consciência, para cumprir serviço cívico em alternativa à recruta. Regressou então ao Funchal, retomando o trabalho no MAC, e nesse mesmo ano, em 1996, volta a ser signatário de um documento político: O futuro pertence à democracia.  Num texto bastante crítico para com o PSD-Madeira, lê-se que o “exercício do poder político” não pode ser feito com “recurso à deslealdade e à mentira”.  

O manifesto, aliado às sucessivas denúncias nacionais e internacionais sobre prostituição infantil e pedofilia na Madeira e as críticas à pobreza, tornaram Edgar Silva um dos principais inimigos políticos de Alberto João Jardim. Edgar Silva não se cansava de afirmar que havia na ilha, além dos responsáveis criminais, também responsáveis morais, cumplicidades políticas e até pactos inter-institucionais que tentavam camuflar a situação de muitas crianças madeirenses.

Foi candidato em 1996 ao parlamento regional pelas listas da CDU, conseguindo o melhor resultado de sempre do partido na Madeira. No ano seguinte comunicou ao Bispo do Funchal a sua desvinculação em relação ao exercício do ministério sacerdotal, e filiou-se no PCP em 1998. Foi igualmente membro da Assembleia Municipal do Funchal e da Assembleia de Freguesia de Santo António (Funchal). É membro do Comité Central do PCP desde Dezembro de 2000, quando Carlos Carvalhas era secretário-geral do partido.

Entre os livros que Edgar Silva publicou contam-se obras sobre questões de desenvolvimento humano e social, como é o caso de Instrangeiros na Madeira (2005), Madeira, tempo perdido (2007), Os bichos da corte da ogre usam máscaras de riso (2010), Pontes de mudança, sociedade sustentáveis e solidárias (2011).

 

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