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Albinismo: amputação e superstição
Cortaram-lhe um braço e os dedos da outra mão. Tentaram arrancar-lhe a língua e os dentes, usando uma catana e um martelo. Esteve cinco meses em recuperação. Tudo isto porquê? Porque Emmanuel Festo é albino e nasceu na Tanzânia. Com apenas 13 anos, contou, num discurso hesitante e marcado por gaguez profunda, o horror que viveu à Reuters. Não está sozinho. Há mais, muitos mais como ele.
Como Mwigulu Matonage Magesa, de 12 anos, que perdeu um braço durante um ataque, mas continua a alimentar o sonho de um dia vir a ser presidente. "Se alguém faz algo como arrancar uma parte do corpo de uma pessoa com albinismo ou mata uma pessoa com albinismo, deve ser sentenciado à morte no mesmo dia", disse, à agência noticiosa, em swahili. E continuou, num tom mais forte: "Por enforcamento". Os albinos não têm uma vida fácil em vários países africanos. Na Tanzânia, muitos acreditam que são "fantasmas que trazem má sorte". Por isso, há quem venda partes dos seus corpos como amuletos de boa sorte. Actualmente, dada a proximidade de eleições no país, são muitos os políticos que ambicionam um dedo, um braço, um dente ou uma língua de um albino. Amuletos que, para os crentes, "são mais poderosos se as vítimas gritarem durante a operação", escreve a Reuters, citando um relatório de 2013 das Nações Unidas.
As partes do corpo amputadas atingem valores elevados e são utilizadas sobretudo em rituais de bruxaria. O governo já proibiu o tráfico de membros amputados, mas o problema persiste. Quatro crianças vítimas destes ataques, entre elas Emmanuel e Mwingulu, foram recebidas pela organização canadiana "Under The Same Sun" que, em conjunto com a Global Medical Relief Fund, proporcionaram-lhes um Verão saudável e longe de perigo, em Nova Iorque, e próteses que levarão consigo para que possam readquirir um estilo de vida normal no regresso ao seu país. O albinismo é um distúrbio congénito que afecta uma em cada 1400 pessoas na Tanzânia; segundo dados das Nações Unidas, 75 já perderam a vida desde o ano 2000, vítimas de crime com base em discriminação. Ana Marques Maia