Construtora Somague avança com despedimento colectivo de 273 trabalhadores

Quebra de actividade em vários países, com destaque para Angola e Moçambique, na origem da redução de 14% dos trabalhadores da empresa.

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Somague liderou o primeiro consórcio para a construção do Túnel do Marão, contrato que foi rescindido pelo Estado

A Somague anunciou nesta segunda-feira o despedimento colectivo de 273 trabalhadores, cerca de 14% do universo de 2000 colabores. A construtora justifica a decisão pela quebra de obras em vários mercados, com destaque para Angola e Moçambique.

“A quebra de actividade em Portugal para praticamente zero estava a ser compensada por outras mercados, que também entraram em retracção por causa da queda do preço do petróleo”, explicou ao PÚBLICO fonte oficial da Somague, participada do grupo espanhol Sacyr.

De acordo com a mesma fonte, entre os mercados em que a empresa está presente estão alguns países africanos, com destaque para Angola e Moçambique, e ainda o Brasil, economias que estão a viver um momento de retracção.

O despedimento colectivo abrange “colaboradores que se encontravam, em Portugal, sem trabalho há mais de um ano, mas também funcionários que se encontravam fora do país", explicou a fonte.

A Somague considera que, após a reestruturação em curso, a empresa fica mais bem preparada para procurar novos mercados que compensem a queda de actividade nas geografias em que actualmente está presente.

Albano Ribeiro, presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Construção, diz que “o despedimento na Somague acontece, essencialmente, por falta de obras em Portugal”, considerando que, ao contrário do optimismo revelado recentemente pelo presidente da Confederação Portuguesa da Construção e do Imobiliário, “a crise no sector está a agravar-se e outras empresas nacionais vão ter de despedir milhares de trabalhadores”.

O sindicalista destaca que “a Somague não tinha alternativa ao despedimento, estava a pagar salários a 250 trabalhadores que se encontravam em casa há mais de um ano, uma despesa mensal que ascendia a 150 mil euros mensais”.

Albano Ribeiro destaca o facto de a construtora estar a pagar “um prémio de 20% acima do valor legal das indemnizações”.

De acordo com o Relatório e Contas de 2014, a Somague SGPS conseguiu um crescimento de 11,04% no volume de negócios, para 524,2 milhões de euros. O resultado líquido ascendeu a 118 mil euros e o endividamento líquido totaliza 141,4 milhões de euros.

Ainda de acordo com o mesmo documento, Angola foi o maior mercado individual, respondendo por 273 milhões de euros, 49% dos negócios totais. Portugal ainda aparece como segundo mercado, com 116,6 milhões de euros, representando 21% do total da actividade da empresa. O Brasil teve um peso de 9%, com 2,9 milhões de euros, mas com uma carteira de encomendas de 514,6 milhões.

A carteira encomendas da construtora atingiu 1110 milhões de euros no final do ano passado, o valor mais alto de sempre.

Já em 2015, a Somague anunciou a vitória num concurso na Irlanda do Norte, no valor de 178 milhões de euros.

Em Portugal, a Somague liderava o consócio para a construção do Túnel do Marão, que permitirá ligar Amarante a Vila Real, um contrato que foi rescindido pelo Estado em 2013, depois de dois anos de paragem nas obras, por dificuldades das empresas envolvidas em garantir o financiamento da obra.

Na sequência da rescisão do contrato foi constituído um tribunal arbitral para avaliar eventuais indemnizações ao consócio pelas obras realizadas, que entretanto estão a ser levadas a cabo pela empresa pública Infra-Estruturas de Portugal.

A Somague foi integrada no Grupo Sacyr Vallehermoso em 2004, após a venda por parte da família Vaz Guedes, um passo que visou, segundo a empresa, dar maior escala ao grupo nacional.

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