“Se saísse da casa de fados, o meu fado acabava de certeza”

Os Romance(s) de Aldina Duarte num acto único, no CCB, em Lisboa. Com Camané, Carlos do Carmo, Maria da Fé e os Dead Combo. Este sábado, às 21h.

Foto
Aldina Duarte fotografada para o disco Romance(s) Rita Carmo

“Único e irrepetível”. Assim será, nas palavras de Aldina Duarte, o concerto de apresentação do duplo disco Romance(s), lançado em Abril deste ano.

“Porque tenho a oportunidade de estar com a Maria da Fé, o Camané, o Carlos do Carmo e os Dead Combo, ali de corpo presente e de viva voz, estendi o conceito aos romances fadistas, ao longo do caminho, e termino com o Romance propriamente dito.” Como? Aldina prefere não dizer, mas promete que será “surpreendente.”

O disco nasceu de uma ideia de Maria do Rosário Pedreira, que imaginou um romance cantado. Pedro Gonçalves, dos Dead Combo, viu nele um filme. O resultado foram dois discos num só, a história de um triângulo amoroso que joga com estereótipos para deles extrair muito mais do que as aparências. Primeiro cantada em 12 fados tradicionais, depois a mesma história reinventada por Pedro Gonçalves, que resolveu desafiar Aldina a cantá-lo como uma banda sonora pop.

A encenação do espectáculo, como habitualmente, é dela. Mas o palco é o maior onde já cantou. “Fui eu que fiz a montagem do espectáculo, como é costume. Mas tinha um grande desafio: esta é a maior sala onde já cantei, e isso, em vez de me entusiasmar, intimida-me. Porque vivo melhor num espaço mais pequeno.” Como já tinha feito os 20 anos na Culturgest, a sua sala habitual desde o início, decidiu aceitar o convite do CCB. “Mas tratei logo de reduzir o palco e criar uma cenografia simples, porque não gosto de nada muito figurativo. Vamos trabalhar sobretudo com as luzes, para criar ambiências. Foi o que aprendi com a Olga Roriz e com o Jorge Silva Melo.” Isso permitirá, diz ela, fazer um concerto onde possa “garantir o intimismo e a crueza” do seu trabalho. Daí que tenha decidido cantar apenas “à guitarra e à viola”. Com José Manuel Neto e Paulo Parreira, na guitarra portuguesa, e Rogério Ferreira na viola. No final, os Dead Combo.

Os convidados, Carlos do Carmo, Camané, Maria da Fé, estão todos eles ligados ao seu percurso. “A Maria da Fé é a pedra angular do meu trabalho. Para escolher só uma pessoa, era ela, que está na minha carreira desde o princípio até agora. E lá morrerei na casa [de fados] dela, se ela quiser! Ela, o Carmo do Carmo e o Camané são pessoas que respeitam o meu trabalho mas não deixam de me desafiar, e isso é muito importante para crescer. E independentemente de todo o percurso acabar por ser difícil, solitário, bem-sucedido, às vezes também há fragilidades. Humanamente, tenho os meus medos, as minhas fraquezas. E eles também nisso estão ao meu lado.”

Mas qual é o papel que lhes está reservado, no palco, neste espectáculo? “Eles entram depois de eu fazer a minha apresentação. Escolhi cinco fados dos meus trabalhos desde o início, fados que me definem como fadista. Faço uma espécie de prefácio, com a minha biografia, que foi escrita pela Manuela de Freitas, o Apenas o vento, e depois canto, seguidos, quatro fados que definem o meu trabalho nas suas várias vertentes. O tema é que será sempre o amor, desta vez.” Depois é que vêm as três pessoas que ela tem por suas referências. “É o meu tripé, digamos assim. Vão aparecer numa zona da história onde se percebe que está ali a minha raiz, que é a casa de fados, está ali o palco, está ali o disco. Cada um deles representa isso.”

Mas é a casa de fados que continua a ser o seu principal reduto e alimento. “Porque é a minha raiz e sem raiz não há nada, morre tudo. Eu nunca poderia sair da minha casa de fados, porque os fados, para crescerem, têm que estar lá. No dia em que eu saísse de lá, o meu fado, tal como ele é, acabava de certeza.”

Sugerir correcção
Comentar