Jaime, João, Rui

Sem se armarem em mestres, ensinaram-me tudo o que sabiam.

Os maiores prazeres são os inesperados, imerecidos, imprevisíveis e, no entanto, na ordem metafísica das coisas do coração, inevitáveis.

Um dos maiores de todos é encontrar, por acaso, um amigo de quem gostamos muito mas não vemos há anos. Sabe bem deliciarmo-nos com abraçá-lo, vê-lo e ouvi-lo sem nada ter feito por isso.

A culpa de não termos combinado nada, neste mundo em que só o que se combina acontece (inexoravelmente), gera uma cumplicidade mútua que se aproxima do prazer infantil de fazer uma parceria para roubar e comer figos.

Que me desculpem os trabalhadores de outros sindicatos mas esta fortuita alegria ocorre mais a quem tiver tido a sorte de fazer rádio. A rádio é um mundo em que as colaborações geram amizades que se parecem como casamentos que duram a vida inteira.

O Verão passado, por excelso e bendito exemplo, tive a sorte de encontrar o Rui Morrison (no Neptuno, na Praia das Maçãs) e o João David Nunes (na Adega das Azenhas, nas Azenhas do Mar). Nunca me diverti e comovi tanto em tão pouco tempo. Quando trabalhávamos juntos estávamos tão empenhados que não reparámos que estávamos a ficar amigos para sempre.

Falta-me agora o Jaime Fernandes, em todos os sentidos. Foram e são todos mestres generosos que, apesar dos grandes talentos que têm, sempre fizeram questão de ajudar as pessoas ligeiramente mais novas e enormemente menos talentosas.

Sem se armarem em mestres, ensinaram-me tudo o que sabiam.

A começar pelo amor à amizade.

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