OMS e DGS querem infectados com VIH a ser tratados logo após o diagnóstico

Director do programa nacional calcula que "entre três a quatro mil pessoas" em Portugal começarão por ser beneficiadas com início precoce do tratamento

Vírus VIH a sair de um linfócito DR

As pessoas infectadas com VIH devem começar a terapêutica antiretrovírica o mais cedo possível após o diagnóstico, independentemente da sua situação clínica e imunológica. A recomendação foi feita esta quarta-feira pela Organização Mundial de Saúde (OMS) mas a medida já tinha anunciada ontem no Programa Nacional para a Infecção VIH-Sida, alterando o paradigma do tratamento das pessoas que vivem com esta infecção.

“Foi uma coincidência”, frisa o director do programa nacional, António Diniz, que lembra que há já alguns meses tinha prometido que em Setembro iria actualizar as recomendações de tratamento. A alteração mais significativa consiste na disponibilização dos fármacos utilizados no tratamento da infecção VIH/Sida logo após o diagnóstico, independentemente da contagem de linfócitos T CD4 (células do sistema imunitário do hospedeiro particularmente afectadas pelo vírus e cuja contagem é usada como marcador laboratorial de imunidade). Os antiretrovíricos são fármacos usados no tratamento da infecção VIH-Sida e são gratuitos.

Esta decisão foi tomada depois de terem sido conhecidos os resultados de dois estudos internacionais, o “Start” e o “Temprano”, que concluíram que existem ganhos "significativos",  "em termos da progressão da doença e da mortalidade", além dos benefícios para a comunidade, se os infectados começarem a tomar imediatamente os fármacos. “Se a pessoa não apresenta carga viral positiva, a possibilidade de transmissão do VIH é baixíssima”, justifica António Diniz, que acredita que todas as organizações internacionais “irão seguir este caminho”.

“Isto não significa que todas as pessoas irão logo para os hospitais, é necessária uma avaliação pelo médico, é preciso que a própria pessoa queira [iniciar o tratamento] e ainda que se perceba se há ou não limitações do ponto de vista clínico”, avisa o médico. Segundo António Diniz, esta alteração poderá beneficiar cerca de 16% das pessoas actualmente em seguimento nos hospitais. Serão “entre três a quatro mil” pessoas, estima “por alto”, mas é preciso ainda incluir os novos diagnósticos.

A alteração do paradigma de tratamento está “orientada para o cumprimento da meta definida para 2020 pelo programa das Nações Unidas de prevenção e combate ao vírus da sida, sublinha. Pretende-se que, até 2020, 90% das pessoas infectadas estejam diagnosticadas, que 90% destas sejam tratadas e que 90% dos infectados em tratamento estejam controlados e "alcancem a supressão virológica".

Mas a recomendação da OMS é mais abrangente, incluindo não só as pessoas já infectadas, mas também as que têm um risco “substancial” de infecção, que deverão recorrer aos mesmos tratamentos, de forma preventiva.

Em comunicado, a OMS explica que, com base nesta nova recomendação, o número de pessoas disponíveis para o tratamento anitrretroviral passará de 28 milhões para as 37 milhões que vivem infectadas com o vírus a nível mundial. O objectivo é pôr fim à epidemia de sida já em 2030.

Com base nas estimativas do programa das Nações Unidas, a OMS calcula que, ao "alargar os tratamentos a todas as pessoas com VIH” e ao oferecer opções “preventivas”, será possível evitar 21 milhões de mortes relacionadas com a sida e 28 milhões de novas infecções até 2030.

 

Notícia corrigida: os linfócitos T CD4 não são o mesmo que carga viral

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