Viseu mostrou que já não é o Cavaquistão

Paulo Portas diz que o distrito pode vir a ser o Pafistão, de PaF (Portugal à Frente), mas a arruada não deu sinais disso.

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Miguel Manso
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Nem Cavaquistão nem Pafistão: Viseu já não é o que era no que toca a mobilização laranja. Houve pouca gente na arruada desta quarta-feira à tarde da coligação Portugal à Frente (PaF) e o trajecto não demorou mais de 15 minutos.

Passos Coelho e Paulo Portas chegaram com uma hora de atraso e nem assim encheram a rua pedonal. O significativo apoio viria à noite ao jantar: Rui Rio apareceu para o comício do pavilhão multidesportos, com mais de quatro mil pessoas, mas não fez qualquer intervenção.  E Durão Barroso, ex-presidente da comissão europeia, gravou uma mensagem em vídeo em que apela a que não se deite fora os sacrifícios feitos nos últimos anos.

Na cabeça de muitos estava o mar de gente de há quatro anos, quando Passos Coelho era líder da oposição. Uma apoiante, com um lenço da coligação ao pescoço, comentava com algum desânimo: “Eu esperava mais gente”. Outra, ao lado, justificava: “As pessoas estão muito desiludidas com a política”. À hora marcada – às 18h00 – o histórico autarca e hoje eurodeputado Fernando Ruas concordou que há “distanciamento” e dizia ainda esperar que a rua enchesse. Mas isso não aconteceu.

Na coligação Portugal à Frente (PaF), a explicação para a fraca mobilização está no desgaste deste modelo de campanhas e na marcação de um jantar longe do centro histórico, onde esta quarta-feira se iniciou a arruada. Em 2011 o percurso a pé e o comício aconteceram perto um do outro e com pouco tempo de intervalo.

O próprio Passos Coelho justificou a fraca adesão: “Às vezes tem a ver com a hora a que chegamos”. Quase não se ouviram palmas nem à chegada nem à partida. Ao som dos gritos da jota – “já só faltam quatro dias para a vitória” - o passo foi sempre acelerado, só permitiu cumprimentar alguns lojistas e apoiantes. Os elementos da caravana ainda pediram para se andar mais devagar. Em vão.

Passos Coelho e Paulo Portas, ao lado do presidente da Câmara Municipal, Almeida Henriques, percorreram a rua Formosa em 15 minutos e chegaram à estátua de Sá Carneiro. Pelo meio, dois populares protestaram, um homem gritava repetidamente “vergonha, vergonha”, e uma mulher (reformada) dizia “já chega de aldrabar”. Mas a indignação foi abafada pelos gritos da jota a puxar por Portugal, uma técnica que já é hábito nesta campanha.

Conhecido por cavaquistão pelo domínio eleitoral social-democrata que teve sobretudo durante a governação de Cavaco Silva, o distrito de Viseu foi rebaptizado esta quarta-feira. O mote começou por ser dado no almoço de campanha pelo presidente da Câmara Municipal de Lamego, o social-democrata Francisco Lopes: “Hoje à noite, a coligação Portugal à Frente vai afirmar Viseu não como o Cavaquistão, mas como o Passistão”. Nessa terra laranja não há lugar para o líder do CDS e coube ao próprio Paulo Portas a admitir que Viseu tem “forte tradição laranja” mas onde “o CDS soube manter a sua identidade”. E corrigiu: “No domingo podemos ter o pafistão”, um derivado de PaF.

Só que na intervenção seguinte, Passos Coelho pareceu entender que Portas também repetia a ideia do “passistão” e concluiu: “Vejam como atesta a nossa coesão”. Foi um almoço com algum embaraço. Francisco Lopes quis elogiar os dois líderes na sua determinação e lembrou que Portas “revogou o irrevogável” e as frases que Passos disse nessa crise política ao anunciar que não se demitia nem abandonava o país.  

Essa memória já nem Passos e muito menos Portas querem reavivar. Nas suas intervenções ao almoço, os dois líderes voltaram a pedir estabilidade para governar. “Se voltarmos atrás, ficamos refém das circunstâncias, elas podem ser boas ou más, mas se fizermos o nosso trabalho de casa, então estaremos coesos”, afirmou Passos Coelho. “E se nenhum imprevisto a acontecer isso será fantástico e melhor para todos nós”, rematou.

Já Paulo Portas insistiu numa maioria com o argumentário da recuperação económica. “Se tivermos uma maioria tranquila, o país terá quatro anos de crescimento e recuperação. Não se esqueçam que as oposições não se entendem entre si, mas andam a prometer que bloqueiam o Governo e não aprovam o orçamento”, afirmou o líder do CDS. Portas acenou com a eliminação gradual da sobretaxa de IRS, uma proposta “viável” tendo em conta o cumprimento da meta do défice abaixo dos 3%. “Outros não [podem cumprir a eliminação mais rápida] porque dispara o défice”, afirmou.

Em Lamego, uma actualização de última hora à agenda do dia colocava Passos Coelho na rua, no centro da cidade, depois dos últimos dois dias terem sido passados em visitas a fábricas e instituições. Foi uma saída curta, mas ainda assim deu para ouvir a Estudantina tocar. Primeiro a “traidora de franjas”, depois o “assim é que é”, uma modinha que Passos Coelho reconheceu como mais antiga. No segundo refrão, já trauteava e balançava o corpo.  Nos poucos passos que deu no largo central, cumprimentou alguns apoiantes e outros até que conhecia pessoalmente: “Dê um beijinho à sua mulher”. Algumas simpatizantes já há muito que o esperavam na esplanada. E aproximaram-se para perguntar pela saúde da mulher. “Tem estado bem obrigada”, responde. “Força e coragem”, desejou uma delas.

A agenda do dia começou com uma visita à Santa Casa Misericórdia de Resende, uma instituição que tem creches, lar de idosos, cuidados continuados. Aí mostrou um crucifixo que lhe tinha sido oferecido por um director de uma outra instituição nesta campanha e do qual não se consegue separar.

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