Para Costa, o segredo está em “prototipar”, até na campanha

São quase 300 km que separam Lisboa da Feira. Também é grande a distância que afasta a campanha com que Costa sonha da que o PS lhe dá.

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Paulo Pimenta
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“Isto é mesmo a sério, é isto que ele quer fazer”, alertava um dos responsáveis da campanha, antes de António Costa chegar ao Fab Lab. No mercado do Forno do Tijolo, a Câmara de Lisboa disponibiliza o espaço para que os criativos possam testar os seus protótipos. Aí, o secretário-geral do PS estava como peixe na água, entre impressoras 3D, computadores e “jovens empreendedores”, entusiasmados com a sua candidatura a primeiro-ministro.

O socialista não queria para estas legislativas uma campanha igual às outras. E ali tinha os exemplos, ao vivo e a cores, das novas propostas do PS, diferentes de tudo. Do actual Governo, que apenas queria “mais do mesmo”, mas até de anteriores governos socialistas. “É mesmo preciso não ter qualquer vergonha para fazer como Passos e Portas e confundir a redução da sobretaxa com a construção do TGV”, defenderia Costa horas mais tarde em Abrantes, onde também frisou que o seu programa já não previa o “relançamento da economia assente em grandes obras ou no investimento público”. O líder socialista tinha outro caminho.

"Aquilo que o Estado e os municípios têm de fazer é serem capazes de serem catalisadores de uma enorme energia criativa e saber que hoje ela existe na sociedade portuguesa e em particular nas novas gerações", disse Costa. Com a crise, o então autarca tinha descoberto “uma nova economia na cidade”. Que dera frutos e já não obrigava Lisboa a viver apenas da administração pública e das grandes empresas. E por isso, Costa não vê “nenhuma razão para que isso não possa ser feito à escala nacional”.

Fazer diferente, apoiando a criatividade, ao “criar todo um ambiente” para o desenvolvimento de novos projectos. E os exemplos que se viram esta quarta-feira eram mesmo diferentes. Impressoras 3D a produzir pequenos budas, miniteares, chapéus feitos de gravatas e uma ventoinha à frente de um ecrã para medir a intensidade de um sopro.

Projectos aos quais se dava espaço para tentar, sem se exigir resultados imediatos. Bernardo Gaeiras, director do espaço, explicou a estratégia. Estavam “abertos a qualquer pessoa, sem qualquer custo, desde que estejam a prototipar”.

“Prototipar”, tentar ou ensaiar, portanto. Que era o que Mariana Boavida estava a fazer ali, naquela “comunidade de makers com skills”, há dois anos com a sua marca OMA, de objectos feitos a partir de material reciclado, e que com isso tinha evitado a emigração.

Costa já ensaiara a justificação da sua estratégia no comício de Lisboa, na FIL, onde juntara cerca de tres mil pessoas. “Se calhar teria sido mais fácil fazer como eles fazem [coligação PSD/CDS-PP], não propondo nada para o futuro, nada de contas a apresentar - e tudo passava de mansinho. Há outros que gostam mais de outro estilo, mas eu gosto desta minha maneira de fazer política”, defendeu.

Incutir, no entanto, essa “energia criativa” na campanha não está a ser tarefa fácil. Manuel Alegre, anteontem, veio com o habitual discurso do sistema contra o PS. “Estamos a lutar contra poderosíssimos interesses económicos, financeiros e mediáticos que estão por detrás deles. O PS não tem bancos, não tem jornais, não tem sondagens”, declamou para gaúdio da assistência.

Da mesma forma, o aparelho teimava em cumprir as regras da velha escola. Em Coimbra, os militantes calcorrearam a Rua Visconde da Luz, com os jotas de bandeiras na rua e o aparelho a pôr-se em bicos de pés. Costa atravessou em festa o centro histórico com os apoiantes a gritar “quanto mais a luta aquece, mais força tem o PS”. Atrás, seguiam as t-shirts vermelhas da Juventude Socialista, muitos jovens com duas bandeiras em cada mão, para causar maior impacto visual nas peças televisivas. E, pelo meio, o aparelho tentava aparecer. Como o vereador Carlos Cidade que, quando viu que o líder posava para as fotos, numa esplanada, sem que ninguém aparecesse por trás, decidiu fazer photobomb (entrar no enquadramento de uma foto de uma celebridade). Deu uma corrida e assim apareceu sorridente nas costas de Costa, desaparecendo assim que as objectivas se voltaram a virar para o chão.

A arruada teve até direito a um clássico cruzamento de campanhas, quando o socialista cumprimentou respeitosamente aqueles que ocupavam a sede da candidatura do Livre, localizada naquela rua. E só não aconteceu outra vez, porque o bloquista José Manuel Pureza optou por levar a sua barraquinha de defesa da água pública, que estava à porta da igreja de Santa Cruz, para outra freguesia, momentos antes de Costa lá chegar.

Em Santa Maria da Feira, o PS também se esforçou de acordo com as velhas máximas de uma campanha eleitoral. Palco montado no largo do tribunal com camionetas a descarregar apoiantes, oferta de quatro porcos a assar no espeto e 2200 pães. Antes de arrancar, o cenário foi aumentado de 580 para 750lugares sentados. E havia outro tanto de gente em pé.

Estoicamente, no entanto, Costa continuou a tentar fazer a sua campanha diferente. No Fab Lab dispôs-se a testar os protótipos dos jovens empreendedores. “Sopra e testa a tua energia”, convidava o ecrã de um dos projectos. “Parabéns, conseguiste superar-te!” reagira o ecrã, quando alguns tentaram. O candidato soprou uma e outra vez. Mas com o socialista o ecrã não devolveu uma única frase motivadora. “Muitos obstáculos”, concluiu secretário-geral.

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