Biografias ao dispor de leitores-eleitores

Em tempo de eleições, as editoras apostam nos livros sobre candidatos a primeiro-ministro. Passos tem um, Costa dois.

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António Costa: “O PS não começou com a tomada de posse desta direcção”. Rui Gaudêncio

As legislativas de 4 de Outubro disputam-se também editorialmente e se há dois candidatos a primeiro-ministro, os leitores têm oferta livreira para ajudar a formar a sua opinião como eleitores. Assim, depois de em Maio ter sido lançada a biografia de Pedro Passos Coelho, em Julho e em Setembro saíram duas obras de pendor biográfico sobre António Costa.

No caso do actual primeiro-ministro, líder do PSD e da coligação Portugal à Frente, a obra Somos o que escolhemos ser, editada pela Alétheia Editores, da autoria de Sofia Aureliano, é um livro não só autorizado pelo próprio Passos Coelho, como este colaborou mesmo com a autora, que é uma assessora do PSD.

Já os livros sobre António Costa são ambos não autorizados e o líder do PS recusou-se a colaborar quer em António Costa. Os meios e os fins do líder socialista, da autoria dos jornalistas Miguel Marujo e Octávio Lousada de Oliveira, editado da Matéria-Prima Edições, quer em Quem disse que era fácil? Os caminhos de António Costa para chegar ao poder, da autoria dos jornalistas Bernardo Ferrão e Cristina Figueiredo, editado pela Leya.

Outra característica comum às duas obras sobre Costa é o facto de a ideia de ambos os projectos ter partido das editoras. A  Matéria-Prima Edições convidou Miguel Marujo e Octávio Lousada de Oliveira a escreverem sobre Costa, enquanto a Leya desafiou Bernardo Ferrão e Cristina Figueiredo. 

O facto de António Costa não ter colaborado com os autores quer de um quer de outro livro condicionou o tipo de obra. Miguel Marujo assume, em declarações ao PÚBLICO, que a opção foi “contornar o problema recorrendo apenas a outro tipo de fontes, livros, textos, outros depoimentos e o projecto evoluiu em função disso”. 

A obra final é o resultado dessas circunstâncias e não é por isso uma biografia, explica Miguel Marujo, precisando: “A certa altura, o que nos interessou mais foi escrever sobre como pensava, como actuava, do que uma sucessão de casos e de episódios sobre a vida de António Costa.” Miguel Marujo sublinha ainda que a preocupação foi que “as pessoas percebessem como pensa e age um político que se candidata a primeiro-ministro”.

Já Cristina Figueiredo explica ao PÚBLICO que a recusa de António Costa em colaborar, por um lado, adiou a finalização da obra e, por outro lado, alterou o tipo de produto final. “Recebemos o convite da editora em Dezembro e a ideia era estar pronto no início do Verão”, conta Cristina Figueiredo, que explica que tentaram falar com Costa para serem autorizados “a consultar os processos escolares” e para receberem informações na primeira pessoa. 

“Só em Fevereiro respondeu que não colaborava e que diria a quem lhe perguntasse para não o fazer”, relata Cristina Figueiredo. Perante o “não” de Costa, Cristina Figueiredo e Bernardo Ferrão tiveram de “reequacionar o projecto”, largaram “a vertente pessoal” e fixaram-se “no percurso político”. 

Bernardo Ferrão e Cristina Figueiredo recolheram depoimentos exclusivos de outras personalidades do PS sobre António Costa, como é o caso de António Guterres, Jorge Sampaio, António Vitorino, Manuel Alegre, Vera Jardim, mas também de personalidades de outras áreas políticas como Marcelo Rebelo de Sousa, Marques Mendes, Paulo Portas, Ruben de Carvalho ou António Filipe. 

O livro de Bernardo Ferrão e Cristina Figueiredo conta ainda com dois prefácios, da autoria de Pacheco Pereira e de Lobo Xavier, que com António Costa participaram no programa da SIC-Notícias Quadratura do Círculo.

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