Cinema de Manoel de Oliveira e Miguel Gomes no festival de Nova Iorque

Realizador de As Mil e uma Noites acompanha a exibição da sua trilogia no festival norte-americano.

Foto
Miguel Gomes Rui Gaudêncio

O Festival de Cinema de Nova Iorque dedica este ano parte da programação a Manoel de Oliveira e Miguel Gomes, com a exibição de Visita ou Memórias e Confissões e da trilogia As Mil e uma Noites.

Com seis horas de duração, a trilogia de Miguel Gomes tem estreia nos EUA esta quarta-feira, com a presença do realizador durante a exibição do primeiro volume, O InquietoSegue-se O Desolado, na quinta-feira, e O Encantado, no dia seguinte, sempre com a presença do realizador.

"Uma actualização até ao último minuto do que significa fazer um filme político hoje em dia, o épico hino de Miguel Gomes à arte de contar histórias – filmado durante o recente mergulho de Portugal na austeridade – é uma generosa e radical crónica desses tempos conturbados, que honra a fantasia tão completamente como a dura realidade", explica a organização, em comunicado.

O tríptico, que teve antestreia mundial em Maio em Cannes, mereceu o aplauso da imprensa especializada presente no festival francês, que o considerou "um épico" (Libération, Le Monde) e "um dos mais memoráveis" filmes no certame (Indywire).

Recorrendo a reportagens feitas pelas jornalistas Maria José Oliveira, Rita Ferreira e João de Almeida Dias, Miguel Gomes traça a história de um país mergulhado numa crise económica, em austeridade e desemprego, misturando a fantasia dos contos populares árabes de As Mil e uma Noites, narrados pela rainha persa Sherazade.

Quanto a Manoel de Oliveira, o seu último filme será exibido no dia 4 de Outubro. Visita ou Memórias e Confissões, que o realizador tinha estipulado que só seria divulgado após a sua morte, foi rodado em 1982, quando Manoel de Oliveira tinha 73 anos, na casa onde viveu cerca de quatro décadas com a mulher, os filhos e os netos.

"Um dos mais extraordinários e comoventes filmes do mestre português, e certamente o seu mais pessoal, Visita assume a rara forma de uma auto-elegia", escreve a organização do festival.

Durante pouco mais de uma hora, o cineasta fala sobre os seus antepassados, aborda a relação com a morte e com o sofrimento, explica o fascínio pelas mulheres e recorda os dias que passou na prisão depois de ter sido detido e interrogado pela PIDE, nos anos 1960.

"A carreira improvável de Oliveira tomou a forma de um longo adeus, mas o seu verdadeiro adeus não é menos tocante na sua simplicidade e lucidez. Ele fez o filme com 73 anos, esperando certamente aproximar-se do final da sua vida. Mas viria a viver mais 33 anos e a fazer cerca de 25 filmes, alguns deles entre os seus melhores, num crepúsculo alongado que foi também um auge artístico como nenhum outro", conclui a organização do Festival de Nova Iorque.

O festival, que vai já na 53.ª edição, começou a 25 de Setembro e termina a 11 de Outubro.

 

 

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